Igreja Católica

Relatório do Vaticano admite que Igreja continua a falhar em lidar com abusos sexuais

31 de outubro 2024 - 16:21

Dez anos depois de ter sido criada, Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores do Vaticano emitiu um documento crítico sobre a forma como as queixas são tratadas. Mas há críticas de que é demasiado pouco.

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Papa Francisco com Seán O’Malley.
Papa Francisco com Seán O’Malley. Foto do Vaticano.

A Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores do Vaticano emitiu esta terça-feira o seu primeiro relatório sobre o escândalo de abusos sexuais que atinge a Igreja Católica em vários países. Nele se reconhece que a Igreja continua a falhar em lidar adequadamente com os casos de abuso sexual do clero e se critica o órgão do Vaticano encarregue de analisar e instruir as queixas por ser demasiado lento e secreto.

Esta comissão foi implementada pelo Papa Francisco em 2014. E, ao longo dos seus dez anos de trabalho, “viu líderes da Igreja serem objeto de ações administrativas e/ou omissões do passado que foram uma fonte adicional de mal para as vítimas/sobreviventes de abuso sexual”, pode ler-se no documento. Face a isto, advoga-se a “necessidade de um procedimento disciplinar ou administrativo que proporcione um caminho eficiente para a demissão ou destituição do cargo.”

Este relatório analisou os protocolos da Igreja Católica em 17 países e conclui que as vítimas de abuso devem ter mais acesso a informação sobre os seus casos e que deve haver um “compromisso concreto” para as compensar. As compensações, segundo aquele órgão, não se devem limitar ao plano financeiro e devem incluir o reconhecimento dos erros e pedidos de desculpa públicos.

O líder da comissão, cardeal Seán O’Malley, assegurou em conferência de imprensa que este relatório é apenas um primeiro passo no “compromisso firme para assegurar que estes eventos nunca mais acontecerão” e agradeceu aos jornalistas que obrigaram a Igreja a confrontar-se com os “terríveis abusos” cometidos”.

Sobre compensações, admite que “nada que fizermos será suficiente para reparar totalmente o que aconteceu”.

Ao Guardian, Anne Barrett Doyle, da BishopAccountability, uma organização que trata de seguir casos de abuso sexual da Igreja, reconhece que há aspetos louváveis no relatório. Mas não deixa de criticar que este “avalia a fachada” e não a “realidade no terreno”.

A dirigente associativa explicou que à Comissão Pontifícia foi vedado “examinar casos específicos”, uma limitação “absurda” que a impediu de “realizar uma verdadeira auditoria”. Esta era assim “impotente” para abordar “o único teste de salvaguarda que importa”, que é o de saber “se os bispos estão a remover os abusadores”.

Para além disso, afirma ue o relatório “não se centra nas realidades centrais e devastadoras: que as crianças na Igreja Católica continuam a ser abusadas sexualmente pelo clero e que a lei universal da Igreja ainda permite que estes padres sejam reintegrados se certas condições forem satisfeitas. Não condena o facto de o processo de denúncia e investigação de cumplicidade ser falho, repleto de conflitos de interesses e de secretismo.”