Um relatório, intitulado Resíduos de Pesticidas na alimentação não biológica consumida em França: relatório sobre a frequência e a periculosidade dos resíduos detetados em 2022, lançado esta quarta-feira pela Organização Não Governamental Générations Futures, revela a dimensão da contaminação de pesticidas nos vegetais naquele país. Concluiu-se que entre 1.996 amostras de vegetais estudadas, 62% continham pelo menos um resíduo de pesticida.
Nestes 35 tipos de alimentos, sobretudo frutas, verduras e cereais, sem o rótulo biológico, foram detetadas 137 substâncias ativas diferentes. Por tipo de alimento são as frutas as mais contaminadas: 80% das amostras tinham pelo menos um resíduo de pesticida detetado. Os cereais tinham 56% e os legumes 48%. Sublinhe-se ainda a alta taxa de resíduos de pesticidas detetados nos vinhos: 73%. Neste parâmetro, destaque ainda para as cerejas (100%), as uvas (98%) e as clementinas/mandarinas (97%).
Mas o estudo teve em conta ainda outros indicadores. Olhando para os limites máximos de resíduos estabelecidos, o maracujá (15%), as azeitonas prontas a comer (13%) e o arroz (11%) são as que se destacam.
Testaram-se também os resíduos de pesticidas cancerígenos mutagénicos reprotóxicos (CMR), um indicador utilizado pelo Centro Internacional de Investigação do Câncro. O resultado foi que 56% dos frutos testados contêm pelo menos um resíduo de pesticida cancerígeno ou mutagénico ou reprotóxico detetado: as cerejas (90%), as limas (88%), as clementinas/tangerinas (84%), os morangos (74%) e as uvas (79%) tem das mais altas taxas de resíduos de pesticidas classificados como CMR. No caso dos vegetais, o valor foi de 23%. Com o funcho (46%), as saladas (43%), as courgettes (38%) e os pimentos (32%) a destacar-se. No cereais foi menos, 17%, mas no caso dos vinhos foi superior, 32%.
Foram avaliadas também a presença de pelo menos um pesticida considerado perturbador endócrino. Neste caso destacam-se as frutas com 67% e, entre elas, as clementinas/mandarinas (92%), as uvas (88%), as ameixas(88%) e as cerejas (85%). Nos legumes, a taxa foi de 32%, destacando-se os pepinos (62%). O mesmo quanto a cereais e vinhos.
No que toca as resíduos de pesticidas PFAS, o valor das frutas foi de 34%, com cerejas (71%), morangos (54%) e uvas (50%) à frente, 21% para os legumes, com pepinos (52%), endívias (50%), beringelas (40%) e pimentos (40%) a serem os mais contaminados.
A Générations Futures apela assim à redução do uso de pesticidas, ao fim das exportações das substâncias ativas perigosas interditas na Europa e que depois retornam sob a forma de resíduos nos produtos alimentares importados e ao apoio ao consumo de alimentos provenientes da agricultura biológica, pois “demasiados pesticidas perigosos são ainda utilizados e se encontram nos nossos pratos”.