Em entrevista ao The Guardian, Gavin Stephens, presidente do Conselho Nacional de Chefes de Polícia (NPCC), reconheceu que as pessoas negras continuam a ser alvo de violência policial e que foram feitos poucos progressos nessa área.
De acordo com o representante do NPCC, “é uma responsabilidade da liderança descrever-lhes o que isso [o racismo institucional] significa e o que não significa. Isso não significa que todos os polícias sejam racistas”.
“A forma como as nossas políticas, procedimentos [e] formação foram concebidos e implementados durante muitos anos não teve as vozes das pessoas negras envolvidas na conceção e implementação dessas práticas. E, como consequência disso, obtemos resultados desproporcionais em locais onde não deveria haver resultados desproporcionais”, continuou.
Gavin Stephens entende que “a discussão mais útil para o policiamento no futuro é como redesenhamos as políticas, as práticas e a implementação do policiamento para eliminar essa discriminação”.
Em março de 2023 foi divulgado um relatório sobre as práticas da polícia de Londres, encomendado pela Metropolitan Police após o caso de Sarah Everard, a mulher raptada por um agente nas ruas da cidade e depois violada e assassinada. Louise Casey, uma veterana dos serviços de políticas sociais do Reino Unido e membro da Câmara dos Lordes desde 2020, ficou responsável pela sua organização. No documento, conclui-se que o racismo, a misoginia e a homofobia estão institucionalizadas na corporação policial.
Anteriormente, em 1999, o assassinato brutal de um adolescente negro, Stephen Lawrence, levou um juiz de um tribunal superior, William Macpherson, a afirmar que o caso tinha exposto o "racismo institucional" da polícia londrina e a acusar os agentes de incompetência e de falha de liderança.
Apesar das evidências da existência de racismo institucional no seio das forças da autoridade, o comissário da Polícia Metropolitana (Met), Mark Rowley, recusou-se a aceitar os termos “institucionalmente racista” e “institucionalmente misógino” utilizados no relatório de Louise Casey.
Já Stephens frisou que, na sua opinião pessoal, os relatórios estavam corretos e que são necessárias “mudanças institucionais”.
Questionado diretamente sobre se considera que “a polícia é institucionalmente racista”, Stephens respondeu “sim”. O representante dos Chefes de Polícia lembrou que o Met, a polícia de West Midlands e a polícia da Grande Manchester não assumem que existe racismo no seio das suas organizações.
Num documento lançado em 2022 pelos líderes policiais, lê-se que “os negros têm sete vezes mais probabilidade de serem detidos e revistados do que os brancos, estão e cinco vezes mais propensos a serem sujeitos ao uso da força (...) 10% das nossas buscas registadas, 27% dos incidentes de uso da força e 35% dos incidentes com taser envolveram alguém de um grupo étnico negro. As últimas estimativas sugerem que apenas 3,5% da população é negra”.
Stephens repudia o mito de que os jovens negros são perigosos: “É um mito. Sim, os jovens negros envolvem-se no crime – sim, eles correm o risco de serem vitimizados – mas o mesmo acontece com os homens brancos”.
“Se tivermos uma ligação cultural, se tivermos algo em comum com a pessoa com quem estamos a lidar na rua, há uma maior probabilidade de conseguirmos resolver os problemas sem recorrer ao uso da força”, apontou.