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Regime sírio enfrenta a sua crise mais grave

Demissões em massa do Partido Baas que sustenta o regime e sinais de divisões sectárias nas forças armadas são os factos mais significativos reveladores de que o regime sírio da família Assad enfrenta a sua mais grave crise na sequência da brutal repressão das manifestações populares em Deraa.
Bashar Assad enviou o seu mais leal corpo de tropas, comandada por um tio, para reprimir as manifestações populares em Deraa. Foto de ruifipieggio, FlickR

Bashar Assad, o chefe do regime, enviou o seu mais leal corpo de tropas, a Quarta Divisão Mecanizada, comandada por um tio, para reprimir as manifestações populares pela abertura democrática que têm tido o epicentro em Deraa. De acordo com fontes difíceis de validar devido às circunstâncias em que decorrem os acontecimentos e aos limites da circulação da informação, a acção repressiva de quarta-feira provocou cerca de 35 mortos entre civis, elevando para 450 o número de vítimas mortais em seis semanas de protestos.

Devido à forma como o governo tem enfrentado a situação, aumentando o grau de repressão das manifestações desde que levantou o estado de emergência, mais de 200 militantes do Partido Baas de Deraa e regiões circundantes terão abandonado a organização, o primeiro grande sinal de dissidência interna desde o início dos protestos. O movimento parece ser ainda mais significativo pelo facto de Deraa ser conhecida por ter sido uma das principais regiões para recrutamento de membros dos serviços secretos do partido do poder.

Segundo testemunhos populares, existem também sinais de dissidências nas forças armadas, o principal pilar do regime juntamente com os serviços secretos. A generalidade dos soldados e oficiais subalternos são originários da maioria sunita do país e nesses contingentes têm sido identificadas muitas situações de militares que se recusam a disparar sobre os manifestantes. A elite militar pertence principalmente à minoria alauita que governa o país através da família Assad.

“Os maiores funerais realizados nos últimos dias têm sido os de soldados que se recusaram a disparar sobre a população e foram abatidos na ocasião”, terá dito um “diplomata ocidental” citado pelas agências internacionais mas não identificado.

A existência de eventuais divisões nas forças armadas e a violência da repressão são interpretados como sinais de estreitamento do espaço de manobra do regime perante a situação. O futuro imediato do poder da família Assad depende da profundidade da divisão no interior das forças armadas num país que se mantém em estado de guerra com Israel e reclama deste a devolução dos territórios ocupados dos Montes Golan. Depende ainda da capacidade de resistência do movimento popular, que se tem mantido relativamente circunscrito à região de Deraa e a duas zonas suburbanas de Damasco, entretanto ocupadas com tanques ao serviço do regime.

Artigo publicado originalmente no site do Grupo Parlamentar Europeu do Bloco  de Esquerda

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