Recifes de corais podem vir a morrer em massa, "ponto de inflexão" foi atingido

13 de outubro 2025 - 16:49

Um relatório científico diz que estes recifes onde vive um quarto das espécies marinhas podem desaparecer "a menos que voltemos ao aumento das temperaturas médias globais da superfície de 1,2 °C (e, eventualmente, a pelo menos 1 °C) o mais rápido possível".

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capa do relatório sobre corais branqueados
Capa do relatório sobre corais branqueados

Os cientistas do clima consideram que existem uma série de pontos de inflexão relativamente ao aquecimento global, a partir dos quais grandes ecossistemas chegam a um momento em que a sua degradação severa se torna inevitável.

O relatório The Global Tipping Points, dirigido pela Universidade de Exeter, e que foi elaborado por 160 cientistas de 87 instituições em 23 países, defende que o primeiro deles foi atingido. Os recifes de coral enfrentam agora uma situação de morte generalizada devido ao aquecimento causado pelas emissões de gases com efeito de estufa. 

No texto pode ler-se que "a menos que voltemos às temperaturas médias globais da superfície de 1,2 °C (e, eventualmente, a pelo menos 1 °C [de aumento em relação à época pré-industrial]) o mais rápido possível, não manteremos os recifes de águas quentes no nosso planeta a uma escala significativa".

Nestes recifes vive cerca de um quarto de todas as espécies marinhas. Mas são altamente vulneráveis ao aquecimento global. Desde janeiro de 2023 que sofrem um evento global de branqueamento com mais de 80% dos recifes em mais de 80 países afetados por temperaturas oceânicas extremas.

As temperaturas globais situam-se já em 1,4ºC acima da era pré-industrial e sem cortes "rápidos e improváveis" nos gases com efeito de estufa o patamar dos 1,5ºC será atingido dentro de dez anos. A estimativa é que os recifes de corais atingem um ponto de inflexão entre 1ºC e 1,5ºC.

O mesmo relatório considera ainda que estamos "à beira" de atingir outros destes pontos de inflexão, através nomeadamente do que acontece na Amazónia, do colapso de correntes oceânicas e da perda de camadas de gelo.

Isto leva Tim Lenton, professor do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter, a dizer que "já não podemos mais falar de pontos de inflexão como um risco futuro. O primeiro da morte generalizada de recifes de coral de água quente já está em marcha".

Outro dos co-autores, o conselheiro científico principal da WWF-UK, Mike Barrett, considera que estes resultados "demonstram que a conservação de recifes é agora mais importante do que nunca", sendo necessária uma resposta "realmente urgente", nomeadamente para proteger os "refúgios" nos quais os impactos ainda não são tão pronunciados e que poderiam vir a ser "sementes de recuperação para um mundo futuro em que tenham conseguido estabilizar o clima".

Porém, há vozes que divergem da análise feita no relatório. Peter Mumby, especialista no tema da Universidade de Queensland, aceita que o aquecimento esteja a acontecer, assim como o declínio dos recifes. Mas considera que há indícios de que estes consigam adaptar-se, havendo alguns que se manteriam viáveis até 2ºC de aquecimento global.

Isto, para ele, não inviabiliza de todo as conclusões de que é necessária uma ação "agressiva" no que diz respeito às alterações climáticas. Mas mostrou preocupação que haja quem interprete o relatório como indo no sentido da inevitabilidade do colapso dos recifes de coral, o que poderia levar a sociedade civil a "desistir".

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