Quem Dá Mais? O Preço Certo da Privatização!

por

Diogo Gomes

13 de outubro 2024 - 15:12
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Quem reduz a RTP ao Telejornal, ao “Preço Certo” e ao “Aqui Portugal” demonstra total desconhecimento sobre o vasto serviço público que a RTP presta, frequentemente com dificuldades de financiamento.

Fernando Mendes na emissão 4.000 do “Preço Certo”
Fernando Mendes na emissão 4.000 do “Preço Certo” Foto Cláudio Brinca - Fremantle Portugal

Nos últimos dias, temos visto o poder neoliberal a começar a cortar as pernas ao serviço público. De todos os ataques, o mais significativo nota-se no corte de financiamento através dos anúncios da Rádio e Televisão de Portugal (RTP) e na obrigatoriedade de dispensar 250 trabalhadores.

Muito se pode ler na internet sobre como a RTP se resume a um telejornal, ao Preço Certo e ao "Aqui Portugal", com o famoso número para participação num concurso monetário. Quem reduz a RTP a este nível demonstra total desconhecimento sobre o vasto serviço público que a RTP presta, frequentemente com dificuldades de financiamento.

Para quem não conhece, a RTP conta com um total de 15 canais de televisão. Além dos mais conhecidos, como a RTP1 e a RTP3, vai além-fronteiras com a RTP Internacional e a RTP África, e chega às ilhas com a RTP Açores e a RTP Madeira.

A RTP2 é um exemplo claro do que significa serviço público de qualidade. Enquanto os canais privados focam-se no entretenimento fácil e comercial, a RTP2 oferece uma programação cultural e educativa, que vai desde o cinema de autor até documentários e séries internacionais de alta qualidade. É o único canal que se compromete com a promoção das artes, da cultura e da educação, emitindo conteúdos que não têm espaço nas grelhas comerciais. Além disso, a RTP2 é inclusiva, com programas em língua gestual portuguesa e uma oferta pensada para públicos ignorados pelos privados. Numa altura em que o acesso à cultura é cada vez mais desigual, a RTP2 desempenha um papel vital ao torná-la acessível a todos, reforçando a verdadeira missão do serviço público.

Mas o grupo RTP não se limita à televisão. Também opera 15 canais de rádio, seguindo a mesma lógica de diversidade, com rádios dedicadas a géneros específicos. Estas rádios dão oportunidade a artistas emergentes que as emissoras privadas recusam, por não serem economicamente viáveis.

Em março, quando o país está diante da televisão a assistir ao Festival da Canção, é graças à RTP. Quando Portugal vê, em direto, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, é a RTP que assegura essa transmissão. Durante a pandemia, quando o ensino à distância era uma realidade para muitos, o programa "Estudo em Casa" trouxe educação gratuita e acessível, e ainda hoje é um recurso valioso, disponível para apoiar os alunos na preparação de testes e exames nacionais.

Além de transmissões ao vivo, a RTP é um verdadeiro arquivo histórico, com um vasto acervo de imagens, vídeos e áudios do nosso passado e presente, acessível online e de forma gratuita para todos. Outro exemplo é a RTP Palco, que grava e disponibiliza concertos, alguns icónicos e outros históricos, para aqueles que não puderam estar presentes, permitindo um vislumbre da experiência ao vivo.

Podia continuar com todos os serviços públicos que a RTP presta, mas para tentar terminar falo-vos da essencial aposta na cultura portuguesa que a RTP traz ao país, com investimentos no Cinema e Música nacional, dança e teatro, não há mãos para medir este trabalho de excelência que já nos trouxe pérolas maravilhosas como o Pôr do Sol e o Colar de São Cajó, tudo isto disponível numa plataforma online a RTP Play de forma gratuita.

Nada disto parece importar aos neoliberais, que só se interessam pelos interesses privados. Para eles, o valor de um canal de televisão está apenas nos seus rendimentos económicos e nos "shares" que gera. É neste contexto que tentam minimizar a RTP, reduzindo-a ao "Preço Certo", ao telejornal e ao "Aqui Portugal". No entanto, mesmo esses programas são parte integrante da nossa história e identidade nacional.

O "Preço Certo", por exemplo, é um programa histórico que começou em 1990 e sobreviveu à mudança da moeda. É uma companhia fiel para milhares de pessoas mais idosas, que assistem diariamente e encontram no programa um momento de entretenimento e ligação. São mais de 4000 episódios.

Reduzir a RTP a estes programas é ignorar a vasta gama de serviços que oferece. Contudo, também é importante reconhecer que a RTP é, sim, o "Preço Certo", o telejornal e o "Aqui Portugal", porque esses programas fazem parte da sua história. A tentativa de destruir a RTP é uma velha conversa, promovida pelo PSD, que procuram privatizar a estação, entregando-a aos interesses privados.

A luta é por uma RTP forte, bem financiada e, acima de tudo, pública. A privatização de uma televisão nacional tão importante não trará qualquer benefício ao país.


Diogo Gomes é Cineasta/Fotógrafo e membro da Coordenadora concelhia de Torres Novas do Bloco de Esquerda,

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