Este domingo ocorreram as chamadas eleições PASO na Argentina. Trata-se de eleições “primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias” com vista a escolher os candidatos de cada uma das áreas políticas para as eleições presidenciais e legislativas do próximo 22 de outubro. Ao contrário das expetativas que maioritariamente estavam a ser avançadas, na frente ficou o candidato de extrema-direita, Javier Milei, um economista “anarco-capitalista”, como se define, e ultra-conservador, com perto de 30% do total de votos. Depois ficou a direita do Juntos pela Mudança com 28,2%. O peronismo, da União pela Pátria, atualmente no governo, ficou na terceira posição com 27%.
Milei, do “Liberdade Avança” apresenta-se como candidato contra “a casta política” e é deputado no Congresso argentino. Alia um discurso de inspiração trumpista e conspiracionista, como a defesa da liberalização da venda de armas, a afirmação de que as alterações climáticas provocadas pelos seres humanos são mentira ou que a educação sexual é um esquema para destruir a família e o aborto deve ser totalmente proibido, com propostas ultra-liberais, como a de que o Banco Central deve deixar de existir e os serviços públicos devem ser atacados. E outras excêntricas como a ideia de que a venda de órgãos humanos deveria ser legalizada. Para além disso, num país que enfrenta uma inflação anual de mais de 100% e uma forte desvalorização da moeda, propõe trocar o peso pelo dólar.
No lado da direita, a ex-ministra da Segurança, Patricia Bullrich, da coligação Juntos pela Mudança, que participou nos governos de Fernando de la Rua e de Mauricio Macri, reprimindo então fortemente as manifestações populares, venceu o presidente da Câmara de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta. Do seu programa também constam medidas de cariz liberal como a defesa dos cortes orçamentais ou uma auditoria “severa” aos programas de assistência social, para além de afirmar claramente querer travar os protestos sociais em Buenos Aires.
No campo governamental, o ministro da Economia, Sergio Massa, da União pela Pátria, ficou à frente de Juan Grabois, um candidato mais à esquerda. Mas os votos obtidos pela coligação são os mais baixos nos últimos tempos. O governante diz que há ainda “60 dias para dar a volta e ganhar àqueles que convocam a partir do ódio”.
Estas eleições serviam também para excluir das presidenciais os candidatos que obtivessem menos de 1,5%. À esquerda, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT-U) ultrapassou esse patamar com 2,7%. Assim, Myriam Bregman, deputada, advogada e ativista da luta pelos direitos humanos, dirigente do Partido dos Trabalhadores Socialistas, apresentar-se-á nas próximas eleições. Na noite eleitoral prometeu dar luta à extrema-direita que “avançou como nunca” e responsabilizou por isso o peronismo. Sublinha ainda ser a única candidatura que “enfrenta os candidatos do FMI e as políticas de ajuste e repressão”, prometendo dar voz à agenda feminista e às exigências sócio-ambientais.