Robert Francis Prevost Martínez tem 69 anos e foi eleito esta quinta-feira como Papa da Igreja Católica ao fim de quatro votações dos cardeais, assumindo o nome de Papa Leão XIV. Nas primeiras declarações disse que deseja que a mensagem de paz “entre nos corações, chegue às suas famílias e a todas as pessoas, onde quer que estejam” e fazer “uma Igreja que construa pontes”. Esta é para ele uma "paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante" e uma Igreja "que tente estar sempre próxima de quem sofre".
Prevost viveu grande parte da sua vida entre os Estados Unidos, onde nasceu, e o Peru, onde passou largas temporadas e até tem também nacionalidade peruana. Ou seja, do primeiro Papa norte-americano também se pode dizer, com menos propriedade mas com tanto rigor, que é o segundo consecutivo da América Latina.
Ocupava atualmente o cargo de prefeito do Dicastério para os bispos, desde janeiro de 2023 e desde 30 de setembro desse ano era cardeal, uma ascensão considerada fulgurante, sendo dado ao mesmo tempo como próximo do Papa Francisco e como uma figura mais centrista.
Nascido em Chicago a 14 de setembro de 1955, juntou-se desde cedo à Ordem de Santo Agostinho e tornou-se padre aos 27 anos, tendo-se doutorado em Direito Canónico pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino de Roma. Antes disso, tinha sido missionário desta ordem no Peru em 1985. Depois de viver nos EUA, acabaria por voltar àquele país para dirigir o seminário agostiniano de Trujillo, entre várias outras funções.
No final dos anos 1990 regressa ao seu país, eleito provincial da Província Agostiniana de Chicago. A partir de 2001, torna-se prior geral dos agostinianos. E entre 2013 a 2014 foi diretor de formação no Convento de Santo Agostinho em Chicago. E ainda nesse ano foi nomeado administrador apostólico da Diocese de Chiclayo e bispo de Sufar. Já em 2020 tornou-se administrador apostólico de Callao , também no Peru, e Papa Francisco nomeou-o membro da Congregação para os Bispos. Três anos depois, assume o Dicastério para os Bispos e imediatamente a seguir torna-se cardeal.
Prevost era considerado um dos favoritos. Mas, como escrevia a agência noticiosa italiana ANSA, tinha um ponto muito a seu desfavor: acusações de encobrimento de abusos sexuais na Igreja tanto em Chicago, não tendo “tomado medidas entre as décadas de 1980 e 1990 contra dois agostinianos, posteriormente condenados por abuso”, quanto no Peru, criticado por três religiosas por “ter acobertado a denúncia na qual elas afirmam ter sofrido abusos sexuais por parte de dois padres”.
Outro aspeto que também lhe era apontado como obstáculo era o seu perfil descrito como eficiente mas muito mais burocrático do que anteriores ocupantes do cargo.
Já a sua "moderação", "reserva" e perfil discreto quanto às posições públicas eram apresentadas como uma vantagem. Contudo, foram várias as vezes que quebrou essa discrição nos últimos tempos para tomar posições no X. Republicou um artigo contra o atual vice-presidente dos EUA intitulado "JD Vance está errado: Jesus não nos pede para hierarquizar" o nosso amor pelos outros e divulgou outro crítico das posições de Trump sobre imigração.
The new Pope didn't tweet once in 2024. In 2025, he's posted 5 times, in which he: - Criticized JD Vance's views on Catholicism and Jesus - Posted an article opposing Trump's immigration policies - Retweeted twice about the Pope's health - Retweeted a criticism of Trump & Bukele's laughter at KAG.
[image or embed]— Aaron Reichlin-Melnick (@reichlinmelnick.bsky.social) May 8, 2025 at 6:34 PM
Recuando ainda mais no tempo, encontram-se tanto republicações críticas da "teoria de género" quanto da política migratória e ambiental de Donald Trump no seu primeiro mandato.



Enquanto alguns tentam decifrar como será o novo papado nas suas mensagens do X, outros analisam declarações e citações na imprensa. Mais recentes ou mais antigas. O New York Times recorda um discurso de 2012 aos bispos no qual lamenta que os meios de comunicação social ocidentais e a cultura popular fomentassem "simpatia por crenças e práticas contrárias ao Evangelho", citando o "estilo de vida homossexual" e as "famílias alternativas compostas por pessoas do mesmo sexo e os seus filhos adotivos". Mas adverte que a posição já não é recente, que nos últimos tempos não se pronunciou sobre estas matérias, e "não é claro" o que pensa.
E o El País cita uma declaração, aparentemente bem mais progressista, dada ao Vatican News, onde tinha dito sobre o que se estava a passar na Igreja: "não podemos parar, não podemos retroceder. Temos que ver como o Espírito Santo quer que a Igreja seja hoje e amanhã porque o mundo de hoje, no qual a Igreja vive, não é o mesmo que o mundo de há dez ou vinte anos".