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Prédio de 16 andares na Almirante Reis, um "atentado à cidade"

Projeto de fundo imobiliário alemão pretende construir 16 andares no quarteirão da cervejaria Portugália. Seria um dos prédios mais altos de Lisboa no meio de um vale. Manuel Grilo considerou a proposta um "atentado à cidade".
Fachada devoluta da fábrica de cerveja Portugália. Foto restosdecoleccao.blogspot.com.
Fachada devoluta da fábrica de cerveja Portugália. Foto restosdecoleccao.blogspot.com.

Quem passa hoje na conhecida cervejaria Portugália, na avenida Almirante Reis, poderá questionar-se por que razão o edifício de traça nobre tem à sua volta todo um quarteirão demolido que constitui um buraco a céu aberto. Até há poucas décadas, era ali a fábrica de cerveja Portugália. A atual cervejaria começou como um pequeno negócio para atender os clientes que vinham à fábrica e aguardavam por um novo carregamento de barris. Hoje, é tudo o que resta dessa história.

Agora, um projeto imobiliário pretende ocupar todo o quarteirão com vários edifícios, entre eles uma torre de 16 andares que poderá constituir um dos prédios mais altos de toda a cidade — num vale com colinas em redor.

O projeto Portugália Plaza, já aprovado pelo departamento de urbanismo da Câmara de Lisboa, pretende construir no quarteirão 85 novos apartamentos, 16 escritórios, uma zona de co-work, e zonas comerciais no piso térreo, com um espaço circulável para peões no meio do lote. No topo norte do terreno mantém-se a cervejaria. No lado sul mantém-se também, renovado, o outro edifício que resta no quarteirão, um centro comercial onde em tempos funcionou o jornal O Independente e a loja de música Carbono. Com 22 metros de altura, este atualmente é um dos edifícios mais altos da Almirante Reis. Se a nova torre vier a ser construída, alguns metros a seu lado, deixá-lo-á na sombra com o triplo da altura: 60 metros e 16 andares de pedra lioz e vidro, que se erguerão num dos edifícios mais altos de toda a cidade no meio de um vale.

O Portugália Plaza tem por trás o fundo imobiliário Sete Colinas, com sede no edifício da Caixa Geral de Depósitos. Este fundo é por sua vez gerido pela SilVip, sociedade que gere outros dois fundos imobiliários (VIP e Atlantis). Entre os acionistas da SilVip, revelou o DN, conta-se José Manuel Pinheiro Espírito Santos Silva, ex-administrador do BES no tempo de Ricardo Salgado — que por sua vez é primo de Manuel Salgado, vereador do urbanismo da CML. Mas o proprietário real por trás desta cascata de nomes é um fundo alemão que não tem dado a cara. Segundo o DN, o fundo tem 550 milhões de euros investidos em Lisboa, e aposta sobretudo em hotelaria e condomínios de luxo — a Essentia, consultora que promove o projeto, afirmou ao DN que os apartamentos se dirigem "a famílias e jovens profissionais portugueses da classe média".

A volumetria da torre de 16 andares tem despertado fortes críticas, embora ninguém se oponha à reabilitação de um quarteirão que hoje constitui um buraco a céu aberto. Ela ultrapassa as regras do PDM, pelo que o projeto está sujeito a consulta pública na Junta de Freguesia de Arroios e no edifício da Câmara de Lisboa no Campo Grande. A consulta pública estava para encerrar a 13 de maio, mas foi entretanto prolongada.

Manuel Grilo, vereador do Bloco na Câmara de Lisboa, reiterou as críticas que se tem acumulado sobre este projeto. Em declarações esta quarta-feira ao jornal i, afirmou: "O Bloco de Esquerda é contra a construção de um prédio de 17 pisos na zona de Arroios. A cidade precisa de requalificar as suas manchas urbanísticas, mas deve fazê-lo responsavelmente. Construir um arranha-céus numa zona onde raramente os prédios ultrapassam quatro pisos cria desordem urbanística, não está previsto em PDM, e abre um precedente grave na freguesia de Arroios. Como já é habitual, o PSD estará disponível para viabilizar este atentado à cidade".

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