Preços internacionais dos alimentos caem há 12 meses, mas supermercados não baixam preços

15 de abril 2023 - 11:02

O índice global de preços da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação já está 20,5% abaixo do valor registado há um ano, no início da invasão russa da Ucrânia.

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Foto de Paulete Matos.

O índice global de preços da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, em inglês) voltou a baixar no mês de março. Este índice, que representa uma média dos preços de um cabaz de bens agrícolas nos mercados internacionais, tem vindo a cair há doze meses consecutivos e já está 20,5% abaixo do valor registado há um ano, no início da invasão russa da Ucrânia.

A descida dos preços nos mercados internacionais está relacionada com o aumento da oferta disponível e com o acordo para a exportação de cereais da Ucrânia. De acordo com a FAO, é isso que tem explicado a redução sistemática dos preços de cereais, óleos vegetais e laticínios ao longo dos últimos meses.

No entanto, os preços dos alimentos nos supermercados não só não baixam, como continuam a aumentar. “Apesar de os preços globais terem caído, continuam bastante elevados e a aumentar a nível nacional”, alerta a FAO. Tanto em Portugal, como na Zona Euro, a inflação dos bens alimentares continua a aumentar ao mesmo tempo que as principais cadeias de supermercados registam lucros extraordinários.


Fonte: Bloomberg

 

A economista Isabella Weber, professora na Universidade de Amherst (EUA), tem vindo a desenvolver estudos sobre esta tendência. Num dos seus artigos mais recentes, aponta uma explicação para a persistência da inflação: o poder das grandes empresas em mercados dominados por um pequeno número de grandes grupos económicos, como é tipicamente o caso dos supermercados, permite-lhes proteger ou até aumentar as suas margens de lucro neste contexto.

Apesar da crise, a Jerónimo Martins (dona do Pingo Doce) viu os lucros aumentarem 27,5% face a 2021, com lucros de 590 milhões de euros. Já a Sonae (dona do Continente) registou um aumento dos lucros de 28%, para 342 milhões. O Governo aprovou recentemente a redução do IVA de vários bens essenciais, mas a Associação de Empresas da Grande Distribuição já veio dizer que não garante que os preços não continuem a subir.

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