Portugal em mínimos de representação dos trabalhadores na gestão

02 de abril 2017 - 22:53

Estudo revela que a representação dos trabalhadores portugueses nas empresas é a mais baixa da Europa não ultrapassando os 5% contra os 30% para o conjunto dos países analisados.

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"A representação dos trabalhadores ao nível da empresa é a mais baixa da Europa Ocidental", diz Paulino Teixeira. Foto CGTP
"A representação dos trabalhadores ao nível da empresa é a mais baixa da Europa Ocidental", diz Paulino Teixeira. Foto CGTP

O estudo intitulado “Strikes, Employee Workplace Representation, Unionism, and Trust: Evidence from Cross-Country Data” divulgado na edição deste fim de semana do Expresso/Economia refere que apenas 5% das empresas em Portugal têm representação formal dos trabalhadores, através de associação sindical ou comissão de trabalhadores o que representa o nível mais baixo dos Estados membros União Europeia (UE).

Esta análise, revela o jornal, utiliza o “European Community Survey”, um inquérito às empresas a nível europeu relativo aos últimos dados disponíveis referentes a 2013, e conclui que Portugal tem o nível mais baixo de representação dos trabalhadores no contexto da empresa da UE, além da Macedónia e da Turquia.

Refira-se que os 5% em Portugal comparam com 30% para o conjunto dos países analisados e com 70% na Dinamarca e na Finlândia.

Por tipo de representação, em 2% dos estabelecimentos empresariais em Portugal há associação sindical (9% no conjunto dos países) em 3% há comissão de trabalhadores   (14% no conjunto dos países) e em 1% constata-se a existência dos dois tipos de representação o que significa 7% no seu conjunto.

O professor da Faculdade  de Economia da Universidade de Coimbra e coautor do estudo, Paulino Teixeira, diz com ironia que este é “o quarto segredo de Fátima” por ser  “um segredo bem guardado”, mas afirma de forma peremtória que esta "representação dos trabalhadores ao nível da empresa é a mais baixa da Europa Ocidental”.

A importância da participação dos trabalhadores nas empresas

Perante esta realidade, Paulino Teixeira disse ao jornal que esta situação “é fruto de várias circunstâncias históricas”, acrescentando que “há países com muitos anos de cultura de participação dos trabalhadores nas empresas”, dando como exemplos a Dinamarca, Finlândia, Suécia, Luxemburgo ou França.

No que diz respeito ao nosso país, o catedrático de Economia salienta que, “a cultura é mais de hostilidade e de confronto entre trabalho e capital, entre empregados e patrões”, adiantando que tal situação é resultante de “décadas de ditadura, mas também da influência política sobre os sindicatos em Portugal”.

 

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Para sustentar esta análise, o estudo faz referência ao facto de, em 2013, Portugal ter ficado em quarto lugar no grupo de países onde se registaram mais graves que foi liderado pela Itália, seguido de Espanha e Grécia, o que fica a dever-se à ciscunstância de os países do sul do continente europeu terem sido vítimas de violentas medidas de austeridade que, entre outros aspetos, foram responsáveis por um aumento significativo da conflitualidade social.

A Suécia, o Luxemburgo e a Dinamarca foram os países onde houve registo de menos greves em 2013 uma vez que têm dos níveis mais elevados de representação dos trabalhadores ao nível das empresas.

Para Paulino Teixeira, os dados do estudo extraídos do conjunto de países analisados - uma vez que não há resultados por país - permitem concluir que “quando as comissões de trabalhadores estão presentes e são prevalentes, a incidência de greves é menor do que no caso de representação por associação sindical”.

O exemplo da Autoeuropa

O economista de Coimbra sublinha ainda que “as comissões de trabalhadores tendem a ser menos antagónicas em relação à gestão das empresas do que os sindicatos, porque têm outra perspetiva” e chama a atenção para o caso da Autoeuropa (do grupo Wolkswagen) onde a comissão de trabalhadores “é o veículo privilegiado de ligação entre os trabalhadores e administração".

Finalmente, Paulino Teixeira refere os países como Portugal onde se regista uma “maior dissonância no inquérito às empresas entre o que dizem o gestor e o representante dos trabalhadores sobre a boa o má qualidade do ambiente de trabalho” e onde há maior incidência de greves, para concluir que este cenário é um “sinal de que algo não vai bem nos locais de trabalho”.