A polícia francesa entrou esta quarta-feira de manhã na sede da União Nacional para fazer buscas no âmbito de uma investigação sobre violação das leis de financiamento partidário entre 2020 e 2024. Segundo o jornal Le Monde, em causa estão empréstimos avultados ao partido e aos seus candidatos por parte de apoiantes ricos nas eleições regionais de 2021, nas presidenciais e legislativas de 2022 e nas europeias de 2024. As autoridades também suspeitam da existência de faturas inflacionadas de serviços prestados ao partido, de forma a maximizar a receita das subvenções públicas.
A par da sede nacional do partido de Marine Le Pen e Jordan Bardella, onde foram apreendida muita documentação e emails. "Esta operação espetacular e sem precedentes faz claramente parte de uma nova campanha de assédio. É um grave ataque ao pluralismo e à alternância democrática", afirmou Jordan Bardella na rede social X.
Apesar de ter recebido cerca de dez milhões de euros de financiamento público direto em 2023, o partido destaca-se pelo recurso a avultados empréstimos de doadores individuais. Em 2023, refere o Le Monde, 85,7% destes empréstimos a partidos foram recebidos pela União Nacional e no ano anterior 77,8%. Se lhe juntarmos o outro partido da extrema-direita, o Reconquista de Eric Zemmour, essa percentagem ascende a 98% do total nesses dois anos.
A lei francesa não proíbe estes empréstimos, mas limita-os quanto ao prazo de reembolso e diz que não podem ser feitos “com regularidade”. É por este último motivo que a comissão que avalia as contas partidárias sinalizou vários empréstimos de apoiantes que emprestaram pelo menos cinco vezes um montante acima de 75 mil euros ao partido ou a candidatos nas suas listas.
Procuradoria Europeia investiga desvio de fundos do grupo da extrema-direita
Na terça-feira, a Procuradoria Europeia anunciou a abertura de um inquérito à União Nacional e aos seus antigos aliados no grupo parlamentar europeu Identidade e Democracia, por terem gasto indevidamente mais de 4,3 milhões de euros no mandato entre 2019 e 2024. A União Nacional não ocupou nesse período a presidência nem a secretaria-geral do grupo político europeu, então controlado pelos italianos da Liga do Norte, mas a maior parte do dinheiro sob a mira dos procuradores foi parar aos bolsos de duas figuras próximas de Marine Le Pen: o seu antigo conselheiro Frédéric Chatillon e a esposa Sighild Blanc, através das suas empresas de comunicação, revela a agência France Presse. Chatillon é amigo de Marine desde os tempos da faculdade onde ele liderou nos anos 1990 o Grupo de União e Defesa (GUD), uma organização violenta de extrema-direita criada após o maio de 68. Durante a sua liderança, Chatillon estreitou laços com o regime sírio de Bashar al-Assad, que se tornou no principal financiador do grupo. Mais tarde foi responsável por levar dirigentes e deputados da União Nacional a visitar aquele país.
Esta não é a primeira vez que o partido de Le Pen é alvo de investigações por uso irregular de fundos. Um caso anterior sobre contratação de assistentes parlamentares resultou na condenação da ex-líder da União Nacional a uma pena que inclui a inelegibilidade em eleições legislativas ou presidenciais. O recurso de Le Pen não suspende esta pena acessória e só deverá ser analisado no próximo ano, reduzindo as hipóteses de Marine Le Pen se poder apresentar às presidenciais marcadas para 2027.