Habitação

Plano do Governo "não tem nenhuma solução para baixar o preço das casas”

11 de maio 2024 - 12:29

Mariana Mortágua reagiu à estratégia para a habitação anunciada pelo Governo, destacando que a prioridade da direita foi “dar carta verde ao alojamento local, aos hotéis e a toda a indústria da construção” e o seu objetivo é “empurrar a classe média para as periferias sobrelotadas” e deixar o centro das cidades “para o turismo e os ricos”.

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Mariana Mortágua na Feira da Senhora da Hora
Mariana Mortágua na Feira da Senhora da Hora. Foto de Manuel Fernando Araújo/Lusa

Mariana Mortágua esteve este sábado na feira da Senhora da Hora, concelho de Matosinhos, e respondeu aos jornalistas sobre a estratégia do Governo para a habitação apresentada na véspera. sublinhando que a principal medida anunciada “é reverter o arrendamento coercivo que nunca foi utilizado. e que nunca seria utilizado. É uma medida meramente simbólica, que já não teria nenhuma obrigação do Governo Socialista, mas é a bandeira do PSD”. Quanto à “segunda bandeira” do Governo inscrita no plano apresentado, consiste em “retirar uma taxa extraordinária sobre o alojamento local e reverter algumas poucas medidas que existiam para conter o alojamento local”.

Mas quem vive nas grandes cidades, prosseguiu Mariana Mortágua, sabe que “não é dando carta verde ao alojamento local e aos hotéis e dizendo que ‘expandam-se à vontade’ que se vai resolver o problema da habitação”. Na prática, “o que o governo do PSD está a dizer é que não tem nenhuma solução para baixar o preço das casas”, pois na estratégia apresentada “não há nenhuma medida” para baixar o preço das rendas ou do crédito a habitação ou para conter a procura externa. Pelo contrário, “tudo aquilo que é prometido é mais selvajaria no mercado do arrendamento quando as pessoas já estão desprotegidas”.

“Durante a campanha falavam na habitação, depois da campanha a prioridade é dar carta verde ao alojamento local e aos hotéis e a toda a indústria da construção”, acrescentou. Quanto à promessa de aumentar a construção de casas nas grandes periferias, a coordenadora do Bloco diz que ficou uma questão por responder: “Em quantos anos? As pessoas que têm hoje 30 anos e querem uma família, ou 40 anos, têm que esperar até os 60 para ter uma casa construída, sabe-se lá onde e, entretanto, como é que fica a sua vida?”. Em segundo lugar, “essa construção não tem uma dimensão suficiente para os problemas da habitação”. E em terceiro lugar, acrescentou, a ideia de que vamos construir casas nas grandes periferias da cidade e criar transportes para as pessoas irem trabalhar significa que “o plano do PSD é ter uma classe média que habita nas periferias sobrelotadas, enquanto os centros da cidade ficam para o turismo, para os ricos. E depois há transportes que levam as pessoas, que vivem nas periferias, para servir o turismo e os ricos”.

“É um modelo que nós rejeitamos totalmente. Os jovens têm direito a poder viver na cidade onde cresceram, onde querem viver, onde trabalham e é por isso que lutamos”, concluiu Mariana Mortágua, recordando que nas próximas semanas o Bloco leva ao Parlamento as suas medidas para “baixar as rendas, pôr tetos às rendas, obrigar o Estado a usar o património público para poder servir da habitação, baixar os juros do crédito à habitação reduzindo os lucros da banca, proibir a venda de casa a estrangeiros que não querem viver em Portugal”.

Manifestações de ódio: “É lamentável que Rui Moreira esteja a optar pela narrativa da extrema direita”

Questionada pelos jornalistas sobre as acusações de demagogia feitas pelo presidente da Câmara do Porto ao Bloco de Esquerda, alegando que não pode impedir manifestações de ódio neonazi na cidade onde é autarca, Mariana Mortágua lembrou que “o papel do Presidente da Câmara tem que ser o de proteger todos os cidadãos, independentemente de onde nasceram, independentemente da cor da sua pele”. E que o autarca do Porto “ao proteger esta manifestação, uma manifestação organizada por grupos de extrema direita que vai ao local de um ataque criminoso, celebrar esse ataque criminoso, na verdade, o que está a dizer é que é permitido”.

“Quem gosta de Portugal, sabe que Portugal é país onde cabe toda a gente, e sabe que Portugal é país onde sem imigração, a agricultura não funciona, não estávamos aqui no mercado a comprar legumes. Sem imigrantes, não há gente para trabalhar nos lares para cuidar dos idosos. Sem imigrantes, não há pescas. Sem imigrantes, não há o turismo de que tanta gente fala hoje em dia”, prosseguiu a coordenadora bloquista. E a escolha é se “vão estar cá legais, com condições e em paz com toda a gente ou vão estar cá clandestinos, sem condições, num clima de ódio e de violência, que é aquilo que a extrema direita quer proteger”.

“E eu lamento que o Presidente da Câmara do Porto, entre uma defesa intransigente dos direitos humanos, entre uma defesa intransigente desse Portugal, desse Porto como cidade aberta, esteja a optar pela narrativa da extrema direita neste caso”, concluiu Mariana Mortágua, contrapondo que o que se espera de um autarca do Porto é “informar as autoridades e informar publicamente a cidade do Porto e os seus cidadãos que não tolera manifestações racistas e violentas da extrema direita que vão celebrar um ataque criminoso de um grupo criminoso que entra numa casa e espanca cidadãos ao acaso, pela única razão é que são imigrantes”.

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