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Peru: fujimorismo foi derrotado nas eleições legislativas

Nas eleições do passado domingo, o partido liderado pela filha de Fujimori, que tinha tentado destituir o presidente Martín Vizcarra, foi derrotado. No novo congresso nenhum partido tem maioria, o que facilita o mandato presidencial. Nesta quarta-feira, Keiko Fujimori foi de novo detida.
As eleições legislativas realizaram-se no passado domingo, 26 de Janeiro
As eleições legislativas realizaram-se no passado domingo, 26 de Janeiro

Derrota de Fujimori e reforço presidencial

No passado domingo, 26 de janeiro de 2020, tiveram lugar as eleições legislativas no Peru. Estas eleições foram provocadas pela dissolução do Congresso em setembro passado, após a maioria parlamentar do partido Fuerza Popular, liderado por Keiko Fujimori, ter tentado destituir o presidente e substituí-lo pela vice-presidente Mercedes Aráoz (ler Peru: Um dia com dois presidentes). Estas eleições decorreram, assim, num contexto particular, não coincidindo com presidenciais, como acontece normalmente no Peru. O próprio presidente, Martín Vizcarra, não apoiava nenhum partido e acabou por beneficiar dos resultados eleitorais, que levaram a um Congresso com mais partidos e sem nenhuma maioria clara.

Após as eleições, na passada quarta-feira 29 de janeiro, Keiko Fujimori voltou a ser presa sob a acusação de receber ilegalmente fundos da Odebrecht.

10 Partidos representados no Congresso

Nestas eleições legislativas de 2020 foram eleitos deputados de dez partidos, tendo o maior partido 24 deputados num parlamento de 130. Em 2016, só seis partidos tinham obtido mandatos, sendo que o maior partido (Fuerza Popular – fujimorista) alcançou 73 mandatos (56%, maioria absoluta). (ver no fim do artigo quadro de resultados das legislativas de 2020, comparado com resultados de 2016).

O partido mais votado foi o Acción Popular (centro-direita) e elegeu 24 deputados; seguindo-se a Alianza para el Progreso de Perú (direita liberal ) com 18 deputados; a Union Por el Perú (populista) com 17 mandatos; o Frepap (teocrático evangélico) com 16; a Fuerza Popular (fujimorista) com 12 e a Frente Amplio (esquerda) também com 12. Elegeram ainda deputados: Podemos Perú, 10; Partido Morado, 9; Partido Democrático Somos Perú (democracia cristã), 7 e Juntos por El Perú (esquerda) 5 mandatos.

Esquerda elege 17 deputados

Nestas eleições, duas forças da esquerda elegeram deputados – a Frente Amplio e o Juntos por el Perú, esta segunda força resulta de uma divisão na Frente Amplio, que se deu em 2017.

O Juntos por el Perú é uma coligação constituída pelo partido Humanista e a frente Únete, a qual integra Fuerza Social, Ciudadanos por el Cambio, Movimento por el Socialismo, Partido Comunista Peruano e Partido Comunista del Perú – Patria Roja1. Em novembro de 2019, o Juntos por el Perú coligou-se com o movimento Nuevo Perú, fundado em 2017 e liderado por Verónika Mendoza2.

“O Perú necessita de mudanças de fundo e neste Congresso devemos abrir o caminho”, afirmou Verónika Mendoza após as eleições
“O Perú necessita de mudanças de fundo e neste Congresso devemos abrir o caminho”, afirmou Verónika Mendoza após as eleições

Após as eleições, Verónika Mendoza declarou que “é indispensável que as esquerdas trabalhem juntas dentro e fora do parlamento” e propôs que as coligações Juntos por el Perú e Frente Amplio coordenem uma agenda comum no próximo parlamento.

Verónika Mendoza propôs ainda a revisão de decretos do governo e outras iniciativas para defender os direitos laborais”3.

Preocupações com o crescimento de partidos populistas

Na análise das eleições, os analistas destacam três aspetos preocupantes nos resultados: a ascensão a terceira força mais votada de um partido que condena o neoliberalismo, mas assume posições xenófobas; a subida ao quarto lugar de um partido evangélico teocrático e homofóbico; o facto de o deputado mais votado ser um ex-militar repressor nos anos 80.

Union Por el Perú diz-se contra o neoliberalismo e tem discurso xenófobo

Antauro Humala e UPP
Antauro Humala e UPP

A Union por el Perú (UPP) é liderada por Antauro Humala, que está preso por assalto a uma esquadra da polícia, em que houve quatro polícias mortos. Antauro é irmão mais novo do antigo presidente Ollanta Humala e pretende ser candidato presidencial em 2021, no entanto só cumprirá a sua condenação em 2024.

Tanto o pretenso candidato presidencial como a UPP atacam o modelo neoliberal e dizem-se de esquerda, porém têm um discurso xenófobo, propõem que não seja dado trabalho a imigrantes, defendem a pena de morte e a intervenção dos militares para defender a segurança pública. Antauro tem um discurso homofóbico, chegou a falar em fuzilar homossexuais e a UPP já anunciou que usará a sua força parlamentar para tentar que ele seja libertado e se possa candidatar a presidente.

Uma força teocrática e homofóbica

Wilmer Cayllahua, porta-voz da Frepap, declarou após as eleições: “Os homossexuais têm o mal nos seus corações e no sangue, mas (…) promoveremos nas escolas uma educação com moral”
Wilmer Cayllahua, porta-voz da Frepap, declarou após as eleições: “Os homossexuais têm o mal nos seus corações e no sangue, mas (…) promoveremos nas escolas uma educação com moral”

A Frente Popular Agrícola del Perú (Frepap) elegeu 16 deputados é a organização política da Asociación Evangélica de la Misión Israelita del Nuevo Pacto Universal (AEMINPU), tem posições conservadoras e defende a teocracia. Segundo Carlos Noriega4, “o fujimorismo, duramente derrotado, já começou a mover-se para procurar acordos com esta seita messiânica e ultraconservadora”.

Após serem conhecidos os resultados eleitorais, o porta-voz da Frepap, Wilmer Cayllahua, declarou: “Os homossexuais têm o mal nos seus corações e no sangue, mas eles terão a oportunidade de conhecer o decálogo universal e através disso entrarão na moralidade. O nosso senhor Deus de Israel criou homem e mulher. Promoveremos nas escolas uma educação com moral”5.

Ex-general e ex-chefe da segurança foi o deputado eleito com maior votação

Daniel Urresti foi o deputado eleito com maior número de votos, encabeçando o partido Podemos Perú e será provavelmente candidato a presidente da República em 2021.

Urresti é um ex-general, acusado de ter participado no assassinato de um jornalista nos anos 80, o que ele nega. Em 2013-2014 foi ministro do Interior na presidência de Ollanta Humala. Nas eleições de 2020, o ex-general teve um discurso de dureza contra a delinquência. O Podemos Perú foi constituído pelo empresário José Luna, que, segundo o jornalista citado, “se tornou milionário com o negócio da educação universitária de baixa qualidade e tem várias acusações de corrupção”6.

Resultados Eleitorais




Peru – Eleições legislativas

2020

2016

Acción Popular

24

5

Alianza para el Progreso de Perú

18

9

Union Por el Perú

17

 

Frepap

16

 

Fuerza Popular

12

73

Frente Amplio

12

20

Podemos Perú

10

 

Partido Morado

9

 

Partido Democrático Somos Perú

7

 

Juntos por El Perú

5

 

Peruanos Por el Kambio

 

18

Alianza Popular

 

5


Notas:

1 Ver wikipedia

2 Verónika Mendoza foi, em 2016, candidata presidencial pela Frente Amplio, tendo ficado em terceiro lugar, com 2.874.940 votos.

5 Ibidem

6 Ibidem

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