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Pensar que as artes teriam maior destaque neste governo "foi engano"

Entre as candidaturas ao Programa de Apoio Sustentado às Artes na área do teatro, três preencheram todos os critérios e ainda assim não obtiveram qualquer apoio. O esquerda.net falou com Figueira Cid, representante do grupo A Bruxa Teatro, uma das companhias que ficou sem apoios.
Pensar que as artes teriam maior destaque neste governo "foi engano"

Após a ampla contestação que questionou os critérios do juri no apoio às artes, saíram recentemente os resultados dos reforços no apoios às artes. Das 90 entidades que solicitaram apoio na área do teatro, 68 tiveram direito a apoio e, das 22 que ficaram de fora, 19 não eram elegíveis. O esquerda.net falou com Figueira Cid, do grupo eborense A Bruxa Teatro, uma das três entidades que apresentou um projeto elegível e mesmo assim ficou sem financiamento.

A Bruxa Teatro ficou sem apoios, apesar de ter apresentado um projeto elegível para financiamento. Como reagem a essa notícia e que impacto poderá ela ter para a oferta cultural em Évora?

(Com) estranheza e revolta. Num quadro normal, a recusa no apoio poderia ser aceitável, se tivermos em linha de conta o grande número de candidatos, a discrepância dos valores distribuídos pelo território, o reduzido investimento nas Artes, etc. Mas não neste caso: foi expressamente dito pelo Primeiro-Ministro que todas as estruturas que no passado tivessem sido apoiadas e tivessem tido, no atual concurso, uma percentagem da votação superior a 60%, logo elegíveis, seriam apoiadas. A 'a bruxa TEATRO' teve 64,25%! E foi excluída. Não se percebe, e é isso que é revoltante: a dualidade de critérios. Uma estrutura com dezasseis anos de produção continuada, e com tanto custo e sacrifícios pessoais, deixa sempre marcas na cidade e região onde opera. O seu eventual desaparecimento reduz a oferta, elimina tendencialmente o 'projeto único', criando outros gostos e concorrendo para uma saudável e democrática fruição do teatro, que ao longo dos anos ajudou a criar. E que corre o risco de ver perdido todo o trabalho desenvolvido. Aguardemos que, num futuro contacto com a autarquia, se possa encontrar alguma solução, que minimize a ausência de financiamento por parte da DGArtes e continuar a fazer o que gostamos e entendemos (não apenas nós) por necessário.

 

Miguel Honrado, Secretário de Estado da Cultura defendeu-se desde o início das críticas, argumentando que o novo modelo de apoios às artes foi feito de forma participada pelo próprio setor. Argumento esse que o Partido Socialista mantem. No vosso caso, como decorreu essa auscultação?

Fizemos o que todas as estruturas fizeram: contribuindo com as suas sugestões para um modelo que, duma vez por todas, colocasse o acesso aos dinheiros públicos, duma forma séria, responsável e sem os constrangimentos de outrora. A verdade, porém, é outra: resultou enviesado, cheio de rasteiras, repetitivo, de perguntas desnecessárias, policial! Bem pior que o anterior!

O Primeiro-ministro afastou politicamente o ministro e secretário de Estado da gestão do investimento nas artes. Considera que o secretário de estado ainda tem a confiança do setor?

Não! Depois da trapalhada que foi e continua a ser este concurso, este procedimento, não poderá voltar a ter a confiança de ninguém. Daqui para a frente tratar-se-á de saber quem é mais teimoso, se os agentes culturais, se o Secretário de Estado da Cultura. Entre a luta de uns e a vã glória de mandar de outro, ressabiado e desautorizado.

Que expectativas tinham enquanto artistas e grupo do atual governo para a Cultura?

Não muitas. Com este novo governo, pela criação, novamente, do Ministério da Cultura, desde o início se pensou que as Artes iriam ter um lugar de destaque, os seus fazedores respeitados e dignamente apoiados, uma nova e eficaz estratégia haveria de surgir. No fundo, a cultura colocada num patamar digno do investimento público. Engano! O Ministério da Cultura continua com os seus 0,2%, os reforços recentes do Primeiro-Ministro para as Artes continuam a ser insuficientes. O panorama ter-se-á alterado mas sem a visão de fundo, estratégica, abrangente, que um Ministério da Cultura, de verdadeiro nome e função exigem.

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