Está aqui

Pedro Costa vence Leopardo de Ouro

O realizador português ganhou o prémio principal do Festival de Cinema de Locarno. Vitalina Varela, que dá o nome ao filme inspirado na sua vida, ganhou um prémio de melhor atriz. É a história de uma mulher cabo-verdiana que chega a Portugal três dias depois do funeral do marido ao qual sonhara juntar-se em vida.
Realizador Pedro Costa.
Realizador Pedro Costa. Imagem do site do autor.

Pedro Costa já não é estreante nos prémios no Festival de Cinema de Locarno. Em 2014, tinha aí recebido o prémio de melhor realizador pelo filme "Cavalo Dinheiro".

O seu mais recente filme, que estreou em Locarno, parte da vida de uma das pessoas que já tinha participado em "Cavalo Dinheiro", Vitalina Varela, que ganha pelo seu desempenho prémio de Melhor Interpretação Feminina.

Na conferência de imprensa que apresentou o filme, o realizador salientara a força da sua protagonista: “Vitalina é muito mais real do que eu, do que você, do que nós; ela é demasiado real para um certo tipo de realidade que me faz falta quer no cinema, quer na vida real.” E esclareceu o processo criativo que deu origem a esta obra: “quando começámos este filme, nunca escrevemos realmente um guião: falámos, tomámos notas, começámos a trabalhar, a ensaiar cenas. Ela escreveu este filme, muito mais do que eu. Porque tudo o que se passa neste filme aconteceu-lhe a ela. O meu trabalho foi apenas o de conter, comprimir, organizar as histórias.”

Vitalina Varela segue a história de uma mulher cabo-verdiana, atualmente com 55 anos, que chega a Portugal três dias depois do funeral do marido. Tinha vivido grande parte da sua vida à espera de ir ter com ele mas só consegue chegar ao país depois da sua morte.

O realizador nasceu em 1959, em Lisboa. Primeiro estudou História na Universidade de Lisboa, depois faz o curso de Edição na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa.

No cinema, começa a sua atividade como assistente de realização de Jorge Silva Melo e de João Botelho.

Em 1987 realiza uma série de curtas-metragens, entre as quais "Cartas a Júlia". Em 1990 realiza a sua primeira longa-metragem "O Sangue" que inicia uma série de filmes aclamados pela crítica: "Casa de Lava" em 1994, "Ossos" em 1997, "No Quarto de Vanda" em 2000 que venceu o Prémio France Culture para o Cineasta Estrangeiro do Ano, no Festival de Cannes de 2002.

Depois disso, em 2001 realiza "Onde jaz o teu sorriso", em 2006, "Juventude em marcha" e três anos mais tarde "Ne change rien". 

Um percurso muito ligado à comunidade cabo-verdiana em Portugal que Pedro Costa esclarece ao site do Festival de Locarno. Aí, conta, depois de ter rodado um filme em Cabo Verde, trouxe cartas e presentes para os imigrantes que se encontravam em Portugal. A partir daí ficou: “foi em 97 e desde aí nunca fui embora. Parece-me que aquelas cartas, que eu nunca li, são a origem de muitas histórias desconhecidas para mim, mas vi as caras das pessoas que liam aquelas cartas, ficando felizes ou tristes. Este filme é uma nova carta para esta comunidade e para nós próprios.”

Uma carta necessária por nos trazer “pessoas que vivem hoje no esquecimento, nas margens da sociedade; pessoas que recebem pouco dinheiro pelo seu dinheiro, que são esquecidas, dormem nas ruas, são espancadas ou torturadas. O cinema pode proteger estas pessoas, de certa forma vingá-las em parte por esta condição, apenas por este filme ser mostrado em todo o lado.”

Termos relacionados Cultura
(...)