Para o dia do escritor no Brasil

26 de julho 2025 - 16:18
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O escritor Urariano Mota apresenta as suas reflexões sobre a escrita a partir desta efeméride.

Escrita
Escrita. Foto de flavia souza/Flickr.

Na sexta-feira 25 de julho, foi comemorado o Dia Nacional do Escritor no Brasil

Tantas coisas teria a falar dos ilustres, fundamentais e inesquecíveis que fecundaram a compreensão do Brasil e do seu povo. Os magníficos génios que vêm de Machado de Assis a Graciliano Ramos, de Cecília Meireles a Clarice Lispector, e se fortalecem com o heroísmo pessoal e literário de Lima Barreto, Cruz e Souza, Carolina de Jesus, tantos e tantas, que as omissões involuntárias de nomes seriam um crime.

Sem me incluir entre esses homens e mulheres que honraram a espécie humana, pois não sou louco, apesar de todas as provas em contrário, me atrevo a divulgar dois momentos do que escrevo. No primeiro deles, este vídeo da receção do romance “A mais longa duração da juventude” na loja da Golpe Store no Recife. Aqui.

No segundo, este breve trecho do romance “O que mantém um homem vivo?”, que escrevo nestes dias.

“Para mim, escrever um romance é como o amor, semelhante ao verso da freira Tereza d‘Ávila, ‘morro porque não morro’. Melhor dizendo, à semelhança do amor que uma canção-poema cantava como uma pequena morte. Talvez, se cometo nova blasfémia, melhor que o amor, porque supera esta hora, estes dias. E que vá para o inferno a dor, porque a escrita me leva ao céu, que espero seja apenas num sentido figurado.

Então, devo dizer que a concentração para o romance me afasta de todos os deveres e obrigações práticas. Não pago o Imposto de Renda que devo, mas que por ser pobre devo. Não pago e caio na Dívida Ativa da União. A vontade que tenho é de gargalhar. Por que não a Dívida Artística da União? Mas caio na prosaica e perseguidora dívida sem remédio poético. Muito bem, ou muito mal. Concentro-me no que é justo, mas a vontade não satisfeita fora desta página me reclama. Pior, impõe o seu jugo de provação. E confesso, para publicar o romance anterior, deixei o corpo de.... (tão difícil foi, que reservo a sua revelação para o livro). Sim, o romance era mais importante que a morte. Assim me sinto até hoje, entre o remorso e a felicidade. Para que lado pende meu ser? A divisão justa para mim é impossível até agora. E para maior franqueza, escrevo que não quero jamais passar de novo por essa prova, de provação. Dirijo-me a Deus, afasta de mim esse cálice.

Tal perseguição é real, por esta simples e complexa verdade: para um escritor, tudo que contraria o que ele chama de obra é perseguição. Perguntam as pessoas mais bárbaras: para que escrever? Perguntarão, os bárbaros educados: você vive disso? E respondo: mais que viver, é razão de viver”.

E mais não digo. Recolho-me à minha exata insignificância, com um abraço fraterno aos possíveis leitores, amigos e camaradas. Fui, sou.

Urariano Mota
Sobre o/a autor(a)

Urariano Mota

Jornalista e escritor brasileiro, autor dos romances Dicionário Amoroso do Recife, Soledad no Recife, O Filho Renegado de Deus e A Mais Longa Duração da Juventude.