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Oxfam propõe imposto sobre multimilionários para responder à crise

A concentração da riqueza aumentou com a pandemia e a guerra e os sistemas de impostos têm protegido os que mais lucraram com a crise, ao tributarem cada vez menos os rendimentos de capitais, conclui a ONG.
Imagem no relatório agora divulgado pela Oxfam.

Esta segunda-feira, no mesmo dia que inicia a conferência anual de Davos, a Oxfam lançou um relatório intitulado "Sobrevivência dos mais ricos". A ONG defende que perante o atual cenário de múltiplas crises, os governos devem aumentar os impostos sobre multimilionários.  

Segundo os dados recolhidos, Elon Musk paga uma taxa efetiva de imposto de 3,2% e Jeff Bezos menos de 1%. Enquanto isso, um comerciante no Uganda paga 40% de imposto sobre o seu rendimento. 

O eurodeputado José Gusmão reagiu dizendo que “não há imagem mais clara de perversidade fiscal: um dos homens mais ricos do mundo paga uma taxa efetiva de imposto 10 vezes menor do que um comerciante do Uganda”. Sublinhou ainda que “o relatório da Oxfam é muito claro: desde 2020, o 1% mais rico da população mundial beneficiou de 63% da riqueza criada. Não é uma tendência de agora, é a regra. Na última década, este 1% ficou com metade da nova riqueza”. 

Outros dados são relevantes reter: as fortunas dos multimilionários aumentam a um ritmo de 2,7 mil milhões de dólares por dia e que os grandes grupos dos setores energético e alimentar duplicaram os seus lucros o ano passado, distribuindo 257 mil milhões de dólares aos seus acionistas. 

A Oxfam levanta ainda dois pontos relevantes. Primeiro, dois terços dos países não têm nenhuma forma de imposto sobre herança e metade dos multimilionários do mundo agora vive num destes países. Estima que, por consequência, 5 biliões de dólares passarão para a próxima geração sem serem tributados. Há um risco de continuação na desigualdade.

Depois, segundo investigação recente, o nível assimétrico de riqueza também está associado a um maior impacto ambiental. Um multimilionário emite mais carbono um milhão de vezes que uma pessoa comum e investe duas vezes mais em indústrias poluidoras do que o investidor médio.

Rendimentos de capital tendencialmente menos tributados nas últimas décadas

A Oxfam aponta que, em média, os ganhos sobre capital (a principal fonte de rendimento para o 1% mais rico) é tributado em 18% e apenas três países tributam mais os rendimentos do capital do que os rendimentos do trabalho. Para além disso, as taxas de IRS médias para os mais ricos caíram de 58% em 1980 para 42% mais recentemente nos países da OCDE.

Por fim, sublinha que para ter mantido constante a riqueza dos multimilionários nos últimos cinco anos, os governos precisariam de ter cobrado um imposto de riqueza de 12,8% a cada ano. 

José Gusmão remata o seu comentário criticando quer “a tendência de décadas de redução dos impostos sobre rendimentos do capital e a evasão fiscal das multinacionais" a aumentar, quer "os que falam do sufoco fiscal” neste contexto.

 

 

 

 

Oxfam pede imposto sobre multimilionários para responder à crise

 

A ONG avança com uma proposta de imposto de riqueza, de aplicação única, de 2% sobre milionários, 3% para riqueza acima de 50 milhões de dólares e de 5% sobre os multimilionários. Calcula que permitira um aumento de receita na ordem dos 1,7 biliões anuais. 

 

Para além disso, pede aos governos que aumente, de forma permanente, a taxa de IRS para o 1% mais rico da população para um mínimo de 60%. 

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