Opositor russo condenado a 25 anos de prisão

18 de abril 2023 - 13:39

Vladimir Kara-Murza foi condenado por traição e de espalhar "informação falsa" por criticar a guerra. O juiz que o condenou foi alvo de sanções dos EUA na sequência de uma campanha dinamizada por Kara-Murza a favor da Lei Magnitsky.

PARTILHAR
Vladimir Kara-Murza
Vladimir Kara-Murza em 2021 numa homenagem a Boris Nemtzov, opositor de Putin assassinado em Moscovo.

A repressão aos opositores na Rússia está a endurecer e a prova disso é a duração da pena a que foi condenado esta semana Vladimir Kara-Murza, jornalista e uma das figuras da oposição a Vladimir Putin. Os 25 anos de prisão a que foi condenado contrastam com os 11 anos e meio aplicados ao principal opositor Alexei Navalny.

De nacionalidade russa e britânica, Kara-Murza tem criticado dentro e fora do país a liderança de Vladimir Putin e a invasão da Ucrânia. É autor de uma coluna no Washington Post, que continuou a escrever mesmo depois de ser detido no ano passado. Horas antes da sua prisão, dizia à CNN que o país era governado por "um regime de assassinos". O jugamento e condenação mereceram críticas dos governos britânico e estadunidense, bem como do gabine de direitos humanos da ONU. A diplomacia russa respondeu que as críticas não passam de tentativas de pressionar o sistema judicial do país e aos "traidores" que são "aplaudidos no Ocidente" deixou o recado que "os seus manobradores estrangeiros não os ajudarão a evitar o justo castigo".

Mas a oposição ao regime por parte de Kara-Murza não começou com a guerra. No ínicio da década passada fez campanha dos EUA pela aprovação da Lei Magnitsky, que tomou o nome do consultor fiscal russo que denunciou casos de fraude e roubo em larga escala de dinheiros públicos, acabando preso e morrendo na prisão sem tratamento médica. Promulgada por Obama, a Lei Magnistsky previa sanções para as autoridades que se suspeitava estarem envolvidas no escândalo e entre os alvos das sanções estava Sergei Podoprigorov, o juiz que agora condenou Vladimir Kara-Murza.

"Este caso não teve nada a ver com justiça, é apenas uma vingança política contra Vladimir", afirmou Vadim Prokhorov, o advogado de Kara-Murza. E acrescentou que o jornalista foi posto em solitária em fevereiro e foi depois diagnosticado com polineuropatia, doença que segundo ele foi causada pelas tentativas de envenenamentos que já sofreu. Também por essa razão a esposa, Evgenia Kara-Murza, diz que "é possível afirmar que esta pena longa de prisão para ele é como se fosse uma pena de morte" semelhante à que foi aplicada aos seus bisavôs, executados durante as purgas de Estaline como "inimigos do povo".

A comparação com os tempos de Estaline foi feita por Kara-Murza nas alegações finais da semana passada em tribunal, onde o opositor disse esperar que "chegará o dia em que a escuridão sobre o país irá dissipar-se. em que preto será chamado de preto e branco será chamado de branco; em que será reconhecido oficialmente que dois vezes dois é igual a quatro; em que a guerra será chamada de guerra e um usurpador de usurpador".