O mundo falhou todos os objetivos para parar a destruição da natureza, diz a ONU

17 de setembro 2020 - 17:02

Num relatório arrasador, a Organização das Nações Unidas relembra os objetivos definidos em 2010, analisa o que foi feito e alerta que isto coloca em causa os acordos de Paris.

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Foto de Paula Nunes, esquerda.net.
Foto de Paula Nunes, esquerda.net.

O mundo falhou todos os objetivos para controlar a destruição da vida animal e dos seus ecossistemas na última década, é a conclusão sintética e avassaladora do relatório Global Biodiversity Outlook 5, publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) esta terça-feira.

Desde lidar com a poluição até à proteção dos corais de recife, a comunidade internacional não conseguiu alcançar qualquer um dos 20 objetivos de Aichi, definidos em 2010 para a defesa da biodiversidade, no Japão.  

Esta é a segunda década consecutiva em que os governos signatários falham em alcançar as metas definidas.

Segundo o relatório da ONU, apesar de alguns progressos em algumas áreas, os habitats naturais continuam a desaparecer, e um vasto número de espécies permanece ameaçada de extinção devido à atividade humana.

Os 20 objetivos definidos em 2010 são monitorizados por 60 indicadores e elementos autónomos. Destes, 7 foram atingidos, 38 mostram algum progresso e 13 elementos não apresentam qualquer progresso. Não foi possível obter informação para dois indicadores.

Um dos principais objetivos - reduzir para metade a perda de habitats naturais, nomeadamente florestas -, não foi atingido. A taxa de desflorestação mundial reduziu-se em cerca de um terço nos últimos cinco anos quando comparado com a primeira década deste século, mas a degradação e fragmentação de biodiversidade nos ecossistemas dos trópicos permanece alta. Áreas selvagens e ecossistemas de água doce continuam perigosamente ameaçadas.

Os programas governamentais que ativamente destroem a natureza também não foram reduzidos, com 500 mil milhões de dólares de subsídios governamentais destinados a atividades danosas e que deveriam já ter sido eliminados, segundo os objetivos estabelecidos em 2010, escreve o Guardian.   

Dos seis objetivos parcialmente cumpridos incluem-se a proteção de áreas e as medidas relativas a espécies invasoras. Apesar dos governos terem falhado em proteger 17% de áreas terrestres ou 10% dos habitats marítimos, 44% da biodiversidade destas áreas está agora sob proteção, um aumento em relação aos 29% registados em 2000. Cerca de duzentas erradicações de espécies invasoras em ilhas foram bem sucedidas.

A deterioração dos ecossistemas coloca em causa os acordos de Paris sobre a crise climática, de 2015, e os objetivos de desenvolvimento sustentável aí definidos, diz a ONU.  

“Os ecossistemas do planeta como um todo estão a ser comprometidos. Quanto mais a humanidade explorar a natureza de forma insustentável, mais nós sacrificamos o nosso bem-estar, segurança e prosperidade”, disse a responsável pela biodiversidade da ONU, Elizabeth Maruma Mrema.