De proscrita a maior força eleitoral autárquica basca em número de eleitos, eis o resumo do percurso da coligação Bildu (Reunir), a organização representativa da esquerda soberanista basca integrando candidatos independentistas e que foi um dos mais relevantes factos políticos das eleições autonómicas e municipais de domingo em Espanha.
Formada recentemente pelos partidos Eusko Alkartasuna (Solidariedade Basca, social-democrata) e Alternatiba (militantes que se afastaram da Esquerda Unida), a coligação Bildu conseguiu vencer uma duríssima batalha jurídica contra a ilegalização para chegar às urnas, onde obteve mais de 25 por cento dos votos, quase mil eleitos num universo de 2600, o governo da Junta Geral de Guipúzcoa e a presidência de quase cem municípios, entre eles o de San Sebastian – Donostia. Um voto apenas no Tribunal Constitucional impediu que o Estado Espanhol obrigasse a ficar ausente das urnas uma força política com esta representatividade.
A coligação Bildu tornou-se um facto político novo não apenas no País Basco e em Navarra, onde se apresentou às urnas, mas também em toda a Espanha porque demonstrou o enraizamento social e eleitoral da esquerda abertzale (patriótica ou soberanista) nestas regiões, apesar dos ataques permanentes de que é alvo a partir das forças que dominam o Estado Espanhol. O PSOE e o PP pretenderam a ilegalização, considerando a Bildu uma herdeira da ilegalizada Herri Batasuna e também um braço político da ETA. Durante todo o processo de luta pela legalização, na qual recebeu a solidariedade de outros partidos bascos, a Bildu provou que todos os seus candidatos assinaram um compromisso pacifista e de rejeição categórica da violência política
Os resultados de domingo nas urnas não deixaram dúvidas quanto à realidade que é a esquerda abertzale: segundo lugar em número de votos (25,45 por cento), a cinco pontos do Partido Nacional Basco, nove pontos de avanço sobre o PSOE e 12 sobre o Partido Popular; primeiro lugar em número de eleitos autárquicos, com 36,3 por cento dos lugares em disputa; e primeiro igualmente em número de municípios onde foi a força mais votada – 39,4 por cento.
Nas três circunscrições do País Basco, a Bildu ganhou Guipuzcoa e foi segunda em número de eleitos Alava e na Biscaia. Foi terceira nas eleições para o Parlamento e o governo autonómico da Região de Navarra, com 11,63 por cento e 184 eleitos em cerca de 1800.
Em relação ao País Basco, estes números significam que com um pouco mais de um quarto dos votantes totais a Bildu conquistou 953 eleitos em 2627 e 97 municípios em 246.
A vantagem da esquerda soberanista e dos seus candidatos independentes foi absoluta na província de Guipuzcoa: 34,6 por cento contra 21,3 do Partido Nacional Basco, vitória em 58 dos 88 municípios (66 por cento) e 441 de 868 eleitos. Em numerosos municípios, com sete ou 11 lugares em disputa, a coligação obteve a totalidade dos eleitos.
A Bildu ganhou a mítica e histórica Guernica com 62,76 por cento dos votos e 12 dos 17 conselheiros do município.
Em Alava a vitória em votos foi para o Partido Popular (25,3% e 82 eleitos) mas o PNB obteve 161 conselheiros com 22,46 por cento e a Bildu conquistou 105 conselheiros e 20,7%. A coligação abertzale venceu em 13 dos 51 municípios e conquistou mais lugares que o partido com mais votos na circunscrição.
Na Biscaia, a Bildu voltou a ser segunda, atrás do PNB, com 407 eleitos em 1228, 26 municípios em 107 e 21,3 por cento dos votos.
Em termos globais, no País Basco o PNB ganhou com 326 mil votos e a Bildu ficou a 50 mil, com 276 mil, mais 100 mil que o PS e mais 130 mil que o PP. Ou seja, a Bildu conquistou mais 35 mil votos do que o conjunto dos dois partidos que tentaram impedir a sua legalização. E obteve 50 mil votos do que o melhor resultado alguma vez alcançado por organizações do mesmo quadrante político.
O PNB, actualmente coligado com o PP no governo autonómico, terá que rever a sua política de alianças à luz do novíssimo quadro eleitoral da região, consideram numerosos analistas citados pela comunicação social espanhola. A Bildu, que tem uma componente – a Eusko Alkartasuna – em grande parte oriunda do PNB – é um dado novo fundamental que nenhuma estratégia política regional pode ignorar.
A coligação abertzale deve reunir os seus órgãos representativos nas próximas horas. As primeiras reacções foram proferidas pelo porta-voz, Pello Urizar, que sublinhou que a Bildu é ainda um projecto a construir” mas que “veio para governar”. Estes resultados, acrescentam, “implicam a retirada definitiva da ETA”.
Outro aspecto salientado pelos analistas é o facto de a Bildu, através da sua opção pela não-violência, ter deixado a grande distância a coligação Aralar, que incluiu candidatos independentistas mas não rejeita explicitamente a violência, que não chegou aos três por cento e elegeu apenas 38 candidatos.
Publicado originalmente no site do Grupo Parlamentar Europeu do Bloco de Esquerda.