As eleições europeias nos Bálticos são dominadas pela resposta da UE à guerra na Ucrânia e o potencial avanço da ofensiva para os países fronteiriços, especialmente para a Estónia e a Letónia por serem países que fazem fronteira com a Rússia.
A primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, do Partido Reformista, ganhou notoriedade a nível europeu imediatamente a seguir à invasão da Ucrânia por se ter oposto veemente a Putin. Chegou até a ser apelidada como a “Dama de Ferro da Europa” e é a única líder europeia oficialmente procurada pela Rússia. No entanto, a nível doméstico, a sua popularidade entrou em declínio com o aumento de impostos e o escândalo que tornou públicas as relações comerciais do seu marido com a Rússia.
Kallas foi convidada pelo grupo liberal Renew, onde o seu partido se insere no Parlamento Europeu, para ser a sua candidata à presidência da Comissão. Recusou para se manter ativa na política nacional. Mesmo assim, tem sido uma das vozes ativas a apelar ao aumento da despesa na defesa a nível europeu, incluindo através da emissão de “euro-bonds” para financiar o setor.
Nas eleições europeias, a Estónia recorre a um sistema de voto direto no candidato, mesmo apoiados pelos partidos. Isto quer dizer que a popularidade individual dos candidatos importa. Segundo as sondagens, o Partido Social Democrata (S&D) deverá ganhar dada a popularidade da antiga diplomata e ministra dos Negócios Estrangeiros Marina Kajurand, conseguindo eleger ainda outro eurodeputado. Estima-se que o Partido Reformista consiga também eleger dois, com Urmas Paet, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia, a ser o segundo mais popular. Segue-se o Isaama (PPE) nas intenções de voto, conseguindo também dois eurodeputados e a extrema-direita EKRE (ID) que deve eleger um.
Novo presidente da Lituânia aposta na defesa
A Lituânia terá três momentos eleitorais este ano, sendo que as presidenciais que ocorreram no final de maio são as que mobilizam mais pessoas e onde os partidos mais se empenham na campanha. Foi reeleito o presidente independente e conservador, Gitanas Nausèda, com uma maioria esmagadora face à sua oponente, a primeira-ministra Ingrida Šimonytė da União da Pátria (PPE), o que pode ser lido como um protesto face ao governo.
Cabe ao presidente definir a política externa do país e ao primeiro-ministro a política interna. Nausèda tem sido também bastante vocal na necessidade de aumentar a despesa na defesa, tem procurado fortalecer os laços com a Polónia, e tem insistido numa brigada permanente das Forças Armadas alemãs no território lituano. Estas posições serão transportadas para o Conselho Europeu. Ao mesmo tempo, tem-se mostrado contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Letónia: debate dominado pela guerra
Também na Letónia, que partilha uma fronteira de 284 km com a Rússia e 173 km com a Bielorrússia, o tema central é a guerra na Ucrânia. Numa entrevista à Delfi TV, o antigo Presidente letão Valdis Zatlers foi muito direto: “Esta é uma eleição em tempo de guerra”.
Ao mesmo tempo, nesta campanha, os meios de comunicação letões focam-se nos escândalos em torno do partido dominante Nova Unidade (JV, Grupo PPE), o que provavelmente afetará o número de eurodeputados que consegue eleger e na escolha do Comissário Europeu. Atualmente, o cargo, de alta influência, é ocupado por Valdis Dombrovskis, do mesmo partido.
Krišjānis Kariņš, do JV, venceu as eleições legislativas de outubro de 2022, mas renunciou ao cargo em junho de 2023 com a intenção de ser nomeado Comissário Europeu da Letónia. No entanto, em novembro, um relatório do Auditor do Estado mostrou a sua utilização frequente de jatos privados e como muitos dos voos eram ilegais e um desperdício do dinheiro dos contribuintes. Kariņš demitiu-se e está agora a concorrer para as europeias, apesar de politicamente estar vulnerável.