Mariana Mortágua reforçou o apelo ao voto no comício desta quinta-feira na Alfândega do Porto, mas também o apelo à participação nas manifestações feministas desta sexta-feira por todo o país. "A todas as mulheres, deixo este apelo: amanhã, chuva ou sol, saímos à rua. E domingo votamos como mulheres", afirmou.
Em véspera do 8 de Março, a coordenadora bloquista lembrou que sexta-feira é dia de fechar a campanha “onde devemos estar. Nas marchas do 8 de março”. “Seremos uma enorme maré feminista”, vincou.
Mencionou a este propósito as diferenças salariais entre homens e mulheres que tira às mulheres sete mil milhões de euros em salários, uma discriminação que representa “o maior de todos os lucros extraordinários”. E considerou que as mulheres são “uma barreira contra o atraso” e “a força para as soluções de que o país precisa: da mulher de 90 anos que gritou “Direita nunca” na arruada de Lisboa, à jovem emocionada que esta manhã me disse que vai votar pela primeira vez”.
Por fim, pediu a indecisos e zangados “que não desistam” e “levem a vossa vida até ao voto”. Ou seja, o salário curto, a renda alta demais, a prestação do banco, o quarto abafado, a urgência fechada, a consulta adiada, a urgência pelo clima, a exigência de igualdade. E garantiu: “com a tua força que é a nossa força derrotamos a direita e viraremos a página triste da maioria absoluta” “seremos resposta, seremos luta, seremos incansáveis”.
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Foto de Ana Mendes.
No início do discurso, resumiu alguns vários momentos da campanha e as causas que nela entraram. Em Miranda do Douro, a “lembrar que a EDP ainda não pagou os impostos devidos àquela gente”. Em Setúbal a afirmar o compromisso com o fim dos projetos PIN, “a autoestrada do negócio de favor que permite resorts turísticos em cima das dunas ou data centers em paisagem protegida”. No Algarve, “com a urgência da água que já está a faltar”. Na Beira Baixa a exigir transportes para todo o país. Na Argemela contra a mina de lítio a céu aberto. Em Aveiro e em Braga “estivemos com quem trabalha por turnos, falámos da lei laboral e do salário”. Em Leiria “ouvimos quem não tem acesso a médico de família”. Em Coimbra “quem se levanta pela escola”. Em Santarém “renovámos o compromisso pelo direito ao aborto, que conquistámos há 17 anos, e deixamos a certeza: vamos melhorar a lei”. Em Lisboa, no Porto, “em todo o país, a habitação, sempre a habitação”.
Isto para além de outras causas como as da pobreza, as dos problemas de alojamento estudantil, as dos trabalhadores da arte e cultura, dos cientistas e investigadores, as de quem veio trabalhar para o nosso país “e que em Portugal contribui para a segurança social e faz a economia funcionar”, o compromisso com autodeterminação de todos os povos, denunciando “os cúmplices da guerra e do genocídio”.
A casa é o lugar da dignidade e onde se cumpre o Estado social
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Foto de Ana Mendes.
Marisa Matias, cabeça de lista do Bloco de Esquerda pelo Porto, focou o tema da habitação. Através do exemplo da Ribeira/Barredo contrastou uma reabilitação feita com “cuidado fundamental” pelas pessoas com “o que se faz hoje em tantas cidades do país”, “a proliferação de alojamentos locais” que “são apenas restauro arquitetónico”.
A dirigente bloquista afirma que “em Portugal, a renda não casa com o salário” e que “isto não pode continuar: os salários vão mesmo ter de subir e as rendas e as prestações da casa vão mesmo ter de baixar”. O que passa por revogar a lei Cristas, limitar o preço das rendas, “como se faz na União Europeia”, fazer com que a Caixa Geral de Depósitos seja “parte da solução” relativamente aos empréstimos baixando os juros do crédito da habitação, acabar com os vistos Gold, proibir a venda de residências a estrangeiros não residentes “que fazem negócio especulativo com as casas que compram e com isso estão a distorcer o mercado” como o faz a Dinamarca, a Finlândia, Malta e Áustria.
Marisa Matias pensa que “os partidos que não quiseram resolver a entender o problema da habitação e que agora, pouco ou nada querem fazer, estão sobretudo preocupados em não atacar os interesses imobiliários e financeiros”. Enquanto que o Bloco o considera central porque “o acesso à habitação transformou-se na nova austeridade em Portugal” e “o custo exorbitante e especulativo fez aumentar e muito a pobreza no nosso país”.
Para ela, “a casa é o lugar da dignidade e onde se cumpre o estado social”. E o objetivo é “encontrar soluções para os problemas que vivemos de forma coletiva” porque “não estamos bem enquanto houver pessoas que vivem na pobreza, enquanto há quem precisa de uma mão e o que leva é com ódio ou com indiferença. É por isso que estamos aqui todos os dias”, concluiu.
Fazer do voto uma “profunda primavera”
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Foto de Ana Mendes.
José Soeiro contou a história das 17 trabalhadoras da limpeza dos centros de saúde de Penafiel que foram despedidas quando o serviço foi internalizado pela Câmara. Assim, como elas, “temos de lutar contra um presidente do PSD que fez a sujeira de achar que quem limpa é descartável”.
Lembrou também os trabalhadores da vigilância “sempre com salários colados ao salário mínimo” e “com o sobressalto de não saberem se as empresas que ganham os concursos vão respeitar a lei e garantir os direitos”. E em particular os do Intermodal Rodoviário de Campanhã, que estão com salários em atraso por culpa da Mota Engil que “que no ano passado duplicou os lucros: 113 milhões; que tem Paulo Portas como administrador; em que o CEO ganha o que um vigilante demoraria 46 anos a ganhar”. Protestaram e agora esta “quer correr” com eles.
E a greve dos estafetas da nova escravatura digital que fez a Glovo ameaçar “desativar permanentemente”, “ou seja, despedir sem justa causa, os trabalhadores que nem contrato têm”. Mas “onde se forja o despotismo digital, inventam-se também solidariedades”, vincou.
Enumerou ainda algumas das lutas em que a intervenção do Bloco teve resultados positivos: a dos vigilantes da Câmara do Porto que mantiveram o emprego, “porque a lei que fizemos estava do seu lado”, o programa de regularização de precários que serviu “para desprecarizar vidas”, apesar da maioria absoluta ter voltado ao “mesmo padrão de contratação precária, a cultura de falsos recibos verdes, as manobras com o falso outsourcing”, a luta das amas para terem contratos, o acesso à reforma dos pedreiros, das cuidadoras informais.
O Bloco tem portanto “orgulho” mas não está conformado “com cada pequeno passo que ajudámos a dar”. Por isso apelou a que no domingo “façamos do nosso voto profunda primavera”.
O voto que não tem medo
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Foto de Ana Mendes.
Isabel Pires trouxe o rap de Capicua sobre quem tem medo “de que não tenhamos medo” para falar numa “campanha sem medo, que foi a todos os cantos do distrito, que afrontou os interesses instalados na precariedade e na especulação”.
Dirigiu a sua intervenção particularmente aos jovens. A quem foi dito, quando a direita governou, que viviam “acima das nossas possibilidades, que o salário baixo tinha que ser ainda mais baixo e que direitos eram coisa do passado” e que convidaram a emigrar “com um absoluto desrespeito por todas nós”.
Depois, “a força do Bloco de Esquerda” trouxe aumentos do salário mínimo, a regularização de precários do Estado, o fim dos cortes nas pensões, a redução do preço dos passes. Avanços que “esbarraram sempre nas intenções do PS e quando a barreira se tornou absoluta, quando a maioria se tornou absoluta, tudo parou”.
Assim, aos “mais jovens” e “aos indecisos” trouxe a mensagem de que “o voto no Bloco de Esquerda é a certeza de que o salário sobe, é a força que combate a precariedade, é a justiça que taxa os lucros extraordinários”, “a certeza da esperança de um mundo melhor, de uma vida boa”, o voto “que não tem medo e que no domingo se vai agigantar”.