Netanyahu confirma escalada no genocídio, Orbán recebe-o de braços abertos

03 de abril 2025 - 14:17

O chefe do governo húngaro de extrema-direita anunciou a retirada do seu país no dia em que recebe o seu homólogo israelita alvo de mandado de captura internacional.

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Visita de Netanyahu à Hungria.
Visita de Netanyahu à Hungria. Foto de ZOLTAN FISCHER/EPA.

O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu confirmou ao fim da tarde desta quarta-feira as intenções do seu ministro da Defesa e escalou ainda mais a retórica belicista. Enquanto o exército sionista intensifica as operações militares em Gaza, o Governo garante que vai “apropriar-se de território” e “dividir” a Faixa.

Numa intervenção gravada em vídeo e transmitida pelas televisões, garante que “esta noite, mudámos de caminho na Faixa de Gaza” com o exército “a tomar território, a atacar os terroristas e a destruir as infraestruturas”. Acrescentou ainda que vai “dividir a Faixa” através de um corredor a que chama a “via Morag”, nome de um antigo colonato estabelecido entre Rafah e Khan Younis. Supõe-se assim que o novo objetivo militar seja criar uma zona de ocupação que separe as duas cidades do sul.

Na prática, a Faixa de Gaza está já dividida e existem as alegadas “zonas de segurança” à volta do território, ocupando pelo menos 17% deste, de acordo com o grupo israelita de defesa dos direito humanos Gisha. Há igualmente um corredor de ocupação militar que separa a cidade de Gaza da zona sul da Faixa, chamado o corredor Netzarim.

A dimensão destas ocupações não foi divulgada mas certamente não é uma medida que vá no sentido de retomar as negociações sobre um novo cessar-fogo depois do anterior ter sido quebrado pelo Estado sionista. E levanta mais uma vez a questão de se pretender uma ocupação definitiva daqueles territórios.

Desde que o cessar-fogo foi quebrado, a 18 de março, o exército israelita já matou confirmadamente 1.163 palestinianos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, não contando com as pessoas desaparecidas. Só nas últimas 24 horas foram assassinadas pelos sionistas 97 pessoas, elevando o total de mortes desde 7 de outubro de 2023 para 50.523, sendo o número de feridos cerca do dobro e devendo-se mais uma vez sublinhar que estes números não contam com as pessoas desaparecidas sob os escombros e cujos corpos não foi até ao momento possível recuperar.

Orbán recebe Netanyahu de braços abertos na União Europeia e retira Hungria do TPI

As declarações de Netanyahu foram feitas na véspera de se deslocar em visita à Hungria onde foi recebido calorosamente pelo primeiro-ministro de extrema-direita Viktor Orbán.

Nesta quinta-feira, o governo húngaro anunciou que se retiraria do Tribunal Penal Internacional. Mesmo a tempo de não cumprir o mandado de captura que foi lançado contra o primeiro-ministro sionista.

Gergely Gulyas, chefe de gabinete de Orbán, escreveu na sua conta de Facebook que o “procedimento de saída” seria iniciado esta mesma quinta-feira “de acordo com o quadro legal constitucional e internacional”.

A saída era já esperada e o próprio primeiro-ministro já o tinha antecipado na rede social X em fevereiro, depois de Trump ter imposto sanções ao seu procurador Karim Khan. Então, Orbán escrevera: “é tempo para a Hungria rever o que estamos a fazer numa organização internacional que está sob sanções dos EUA”.

Em termos legais, a retirada terá de ser ainda aprovada pelo parlamento, o que é expectável que aconteça mas ainda não foi realizado e só se efetivará depois de ser oficializada através da entrega de uma carta oficial ao gabinete do secretário-geral da ONU, o que também não ocorreu. Assim, o anúncio feito não retiraria na prática a obrigação da Hungria de deter Netanyahu por crimes de guerra, incluindo assassinatos, perseguições e utilização da fome como arma de guerra, tudo como parte de um “ataque amplo e sistemático contra a população civil de Gaza”.