Depois de décadas de avanços e recuos, em 2017 o Governo apresentou a solução definitiva para o Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), optando por autocarros elétricos em detrimento dos carris. A entrada em funcionamento desta nova forma de mobilidade estaria prevista para 2020 mantendo-se o traçado anteriormente definido, apenas com ajustamentos pontuais. Desde então, sabe-se da necessidade imperiosa de um estudo para a reestruturação da rede dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC), preparando este serviço público para uma nova realidade que depende, em grande medida, da sua integração com o SMM.
O executivo socialista nada fez sobre este assunto, e o atual Presidente, José Manuel Silva, apenas em setembro de 2024, no seu último ano de mandato, apresentou um grupo de trabalho, coordenado por Álvaro Maia Seco. Este grupo definiu as diretrizes técnicas para o caderno de encargos do concurso público que selecionará uma empresa e, essa sim, apresentará as propostas para a reorganização da rede dos SMTUC.
Passados mais de oito meses sobre o anúncio desta metodologia, e a poucos meses da entrada em funcionamento do SMM, não houve qualquer avanço significativo no processo. Estes atrasos revelam, no mínimo, falta de planeamento estratégico de quem governa o Concelho, com graves limitações para o debate público sobre as propostas e, por consequência, para a melhoria de vida. Uma decisão tão estruturante como a política de mobilidade deve resultar de um diálogo entre os técnicos e quem vive, trabalha e estuda em Coimbra.
A participação cívica não pode ser reduzida a um mero "verbo-de-encher". Sob pretexto de falta de tempo, exclusiva responsabilidade dos sucessivos executivos camarários, as populações não devem ficar arredadas desta discussão que marcará o futuro dos SMTUC e, consequentemente, a vida quotidiana das pessoas do nosso Concelho.
A nova arquitetura da rede dos SMTUC deve, em traços gerais, assegurar três objetivos fundamentais: responder às carências das populações das zonas mais periféricas do Concelho, historicamente abandonadas; alargar os horários, em particular os noturnos, para responder às necessidades de quem estuda e trabalha; e garantir complementaridade com outros transportes públicos. Estas diretrizes, conjugadas com a gratuidade dos transportes - medida economicamente justa, ambientalmente responsável e de salvaguarda do direito à mobilidade -, têm o potencial de transformar os padrões da qualidade de vida e, assim, mudar mesmo Coimbra!