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Moedas responde à sobrelotação das casas com limites à imigração de quem trabalha

Depois do incêndio que matou duas pessoas na Mouraria, o presidente da Câmara de Lisboa diz que não lhe cabe fiscalizar as casas sobrelotadas e defende que "as pessoas não podem vir para o nosso país sem terem um trabalho".
Carlos Moedas no Congresso do PSD em julho passado. Foto PSD/Flickr

Em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, o presidente da Câmara de Lisboa veio repetir a ideia já lançada esta semana pelo líder do PSD, Luís Montenegro, na sequência do incêndio com duas vítimas mortais e 14 feridos numa das muitas casas que no centro da cidade albergam dezenas de imigrantes. Para os dois dirigentes do PSD, o problema não está na falta de habitação, mas na política de imigração.

Em vez de fiscalizar essas situações, Moedas diz-se escandalizado mas sacode as responsabilidades para o Governo e as freguesias. "Temos pessoas que têm um arrendamento de uma casa e depois subarrendam a casa a 20 ou 30 pessoas. Isto é escandaloso. Este trabalho é feito com o Governo — eu estou a falar no Governo nesse sentido — e também com as juntas de freguesia, porque são elas que dão os atestados de residência. Quando uma junta verifica que uma casa tem cinco ou seis atestados de residência, alguma coisa está mal...". Quanto às responsabilidades que lhe cabem, diz que "a câmara não pode entrar na propriedade privada, a não ser que haja uma denúncia. Alguém pode fazer essa denúncia. Quando temos denúncias, atuamos".

Falando de si na terceira pessoa, acrescenta que o "Carlos Moedas, político, acredita que precisamos de mais pessoas em Portugal. Agora temos de dar dignidade a essas pessoas. Não podem vir para Portugal sem terem condições nenhumas. As pessoas não podem vir para o nosso país sem terem um trabalho". Apesar de afirmar que "o meu discurso é totalmente a favor de imigração, no sentido de essa imigração ser um valor acrescentado para o país", o autarca não tem nesta entrevista nenhuma palavra ou proposta de combate à exploração a que estes imigrantes estão sujeitos.

Ainda há poucas semanas, o mesmo Carlos Moedas desafiava o líder da Glovo, a plataforma de entregas que se recusa a dar vínculo laboral e os correspondentes direitos a centenas destes imigrantes que para ela trabalham como estafetas em Lisboa, a juntar-se à sua "Fábrica de Unicórnios" no Beato, alimentando assim um modelo de negócio construído na base da exploração laboral.

"Portas abertas para ricos e especuladores, regras apertadas para quem procura trabalho"

Nas redes sociais, não tardaram as reações a esta entrevista. Para a deputada municipal bloquista Isabel Pires, "fica claro que fugiu o chinelo para a xenofobia a Moedas. Quando são unicórnios e nómadas digitais já não há problemas, não é? Esta entrevista é grave sobre muita coisa, esta talvez seja a pior pela proximidade com o Chega", afirma a deputada municipal.

Também o líder parlamentar do Bloco, Pedro Filipe Soares, partilha desta leitura, considerando que Moedas "gosta de nómadas digitais, unicórnios, startup's e vistos gold. Mas o PSD moderninho rapidamente resvalou o pé para a chinela da xenofobia: portas abertas para ricos e especuladores, regras apertadas para quem procura trabalho e é indispensável à cidade".

"Moedas sabe que a cidade que governa está transformada num modelo de turismo baseado na exploração de pessoas migrantes precárias, com salários miseráveis e habitação miserável. E que tal começar por exigir fiscalização e direitos para quem trabalha?", questiona Pedro Filipe Soares.

 

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