Depois de uma temporada a viver no país vizinho, retorno a uma Lisboa ‘apocalíptica’. Triste, imunda e desfigurada, o reflexo da ‘formidável’ Lisboa de trocos.
Não reconheço a cidade que me viu crescer. Nesta quarta-feira (31), o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, publicou através da sua conta pessoal do LinkedIn, um curto texto de apenas 2 minutos de leitura, sobre aquela que seria a “oposição” contra os lisboetas, isto é, ‘aquilo’ e ‘aqueles’ que o Excelentíssimo Senhor Presidente, considera estar a dificultar a vida aos habitantes da capital.
Neste texto, Moedas aborda a situação política na Câmara Municipal de Lisboa, e acusa ainda o PS e os seus “parceiros” (Cidadãos por Lisboa, BE e Livre) de bloquear propostas que visam melhorar a qualidade de vida na cidade. O autarca critica estes partidos por preferirem a "guerrilha e o bloqueio partidário" em vez de priorizarem o interesse público e municipal.
Pois é, mas, enquanto Alfacinha, confesso ter sentido uma certa repulsa ao ler um texto tão descabido, especialmente depois de ver o ‘circo de horrores’ que está montado na minha Lisboa. Uma cidade que em tempos foi referência de segurança, limpeza e harmonia, e que hoje em dia, é descrita pelos cidadãos como “uma vergonha”. Moedas atribui a culpa, maioritariamente à Esquerda, mas a verdade é que desde a sua tomada de posse, Lisboa transformou-se num caos regido pelos ricos e sofrido pelos pobres.
Desde a especulação imobiliária à acumulação de lixo na cidade, passando pelo caos dos transportes e as inacessibilidades dos passeios… mas, assim como Moedas, eu também tenho exemplos concretos para comprovar a incompetência do Sr. Presidente, bem como a audácia de criticar a Esquerda depois de converter a cidade num parque de diversões para os ricos.
1) Imobiliário e Património
2) Alojamento Estudantil
3) Higiene Deficiente
1) No passado mês de julho, a Câmara de Lisboa aprovou três projetos para novos hotéis em importantes edifícios históricos como o Convento da Nossa Senhora da Graça, na freguesia de São Vicente. A proposta foi apresentada pela mão do PSD/CDS-PP e foi viabilizada com a abstenção do PS e é de realçar que esta proposta, assim como as outras duas apresentadas para a Freguesia de Arroios, forammaprovadas com o voto de qualidade do Presidente da Câmara em exercício, função que é desempenhada pelo Vice-Presidente, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP). O que está aqui em questão é que este tipo de edifícios, uma vez abandonados e passados para a tutela do Estado, poderiam ser utilizados para outras funções. Nos dias que correm, poderiam servir como habitação com rendas acessíveis, centros culturais ou centros de saúde, poderiam servir à cidade e aos cidadãos e acabam a servir aqueles a que a isso estão habituados.
2) No dia 17 de março de 2023, Carlos Moedas partilha através da sua conta de X (antigo Twitter) a notícia da inauguração de uma nova residência de estudantes, pertencente à cadeia internacional NIDO no Campo Pequeno. Mas a questão é que estudantes é que vão usufruir desta residência? Uma breve pesquisa no website da empresa responsável pelas residências ‘publicitadas’ por Moedas revela que, nas opções para jovens que estudem na cidade de Lisboa, o valor começa nos 740,00€/mês na Ajuda e 800,00€ em Santa Apolónia. Posso garantir que, a maioria dos estudantes e até dos trabalhadores-estudantes não podem pagar os preços praticados pela opção que visa “aumentar a oferta de habitação” para jovens estudantes. É no mínimo vergonhoso e só demonstra a bolha de privilégio descolada da realidade em que vive a Direita e consequentemente, Moedas.
3) Lixo, ratos e baratas. Este é o retrato de uma capital europeia liderada por alguém que não se importa o suficiente com o bem estar dos habitantes.
Efetivamente, não se consegue compreender como é que a cidade chegou a este estado se a CML aprovou um apoio de 4 milhões de euros às freguesias para reforçar a limpeza e a higiene urbana. Numa declaração escrita, Moedas afirma que este será “…um contributo muito relevante para a construção de uma Lisboa mais próxima, sustentável, dinâmica, solidária e saudável”. As palavras do atual Presidente da Câmara são encantadoras mas a verdade é que na prática Lisboa tornou-se exatamente o oposto do referido por Carlos Moedas. Não é possível dizer que Lisboa é saudável com a quantidade de lixo acumulado nas ruas, nos becos e nas avenidas, muito menos é solidária a cidade em que os sem-abrigo crescem exponencialmente.
Lá fora, Lisboa é referência para absolutamente tudo. Gostam da nossa cultura, da nossa comida, do nosso estilo de vida. Elogiam os preços ‘baratos’, a beleza das nossas cidades e a hospitalidade das nossas pessoas. Mas a realidade vivida na capital é conhecida por aqueles que aqui vivem, viver em Lisboa tornou-se um pesadelo para os Lisboetas e um paraíso para os tourists e os expats.
A verdadeira oposição contra os Lisboetas, é a Direita, esta que foi (e é) das piores coisas que aconteceu à cidade. À minha, à tua e à nossa Lisboa. A capital precisa de voltar a ser entregue a quem pertence: ao povo, ao fado e à ginjinha.
Fontes
https://www.linkedin.com/pulse/oposi%C3%A7%C3%A3o-contra-os-lisboetas-carlos-moedas-1nwqf/