O presidente argentino Javier Milei vai este domingo à capital espanhola para ser a estrela principal num evento patrocinado pela Bit2Me, a principal plataforma de criptomoedas do país, e pela Orion Funded, empresa do mesmo ramo sediada nos Emirados Árabes Unidos. Trata-se do “Madrid Economic Forum” que contará com economistas ultraliberais, figuras da extrema-direita e teóricos da conspiração.
O El Diário noticiou na noite desta terça-feira o facto, lembrando que ainda decorre a investigação à criptomoeda $Libra cujo valor disparou depois de Milei, que reuniu várias vezes com os seus promotores, a ter promovido na conta do X para pouco depois entrar em colapso quando os seus fundadores e investidores iniciais já tinham retirado dinheiro, ganhando milhões no processo.
O jornal identifica ainda os organizadores do fórum: duas firmas de Andorra, Racks Labs e a Abast Global, ligadas à criação de empresas e transferência de residência para o paraíso fiscal que é este principado.
Os organizadores asseguram que a promoção das criptomoedas não estará na primeira linha dos debates, salientando “aspetos como a habitação, a segurança, as pensões, o empreendedorismo, a batalha cultural e a nova ordem mundial”.
Os títulos e os autores das intervenções não deixam dúvidas sobre o carácter ideológico do encontro. Por exemplo, Marcos de Quinto falará sobre “como o wokismo está a ter impacto nas políticas corporativas e na liberdade de expressão” e “os perigos deste fenómeno para o ambiente laboral e a cultura empresarial”; o homófobo e anti-feminista Agustín Laje analisará “o surgimento de uma nova direita”; o influencer Marc Vidal vai intervir baseando-se numa das teorias da conspiração favoritas da nova extrema-direita, o “euro digital, a moeda espia”; o economista liberal Miguel Anxo Bastos, que defende o fim da saúde e da educação públicas, debruçar-se-á sobre o que chama “o fracasso do socialismo como modelo económico”; entre vários políticos ligados ao Vox convidados, encontra-se Ramón Tamames que fará uma palestra sobre “hispanidade”.
As investigações sobre a $Libra continuam
Depois do esquema da criptomoeda $Libra ter feito perder muito dinheiro a muitos dos seus seguidores, o governo argentino tinha prometido total transparência. Esta começaria por uma comissão presidida por uma assessora sua que investigaria o que aconteceu e que acabou por ser dissolvida no final do mês passado “por ter cumprido a tarefa que lhe foi encomendada”, sem mais explicações.
Corre ainda uma investigação em Comissão Parlamentar e há várias queixas em tribunal por parte dos 75.000 mil lesados.
O nome de Milei surge associado às queixas porque a criptomoeda estava avaliada em 0,30 dólares e valorizou imediatamente para 5 dólares depois da mensagem do presidente. Colapsou depois em cerca de duas horas. Não sem antes os investidores iniciais terem tirado o dinheiro investido e lucrado cerca de 107 milhões de dólares em pouco tempo.
O que Milei escreveu foi o motor de todo o sucedido, mas desculpou-se dizendo “não promovi, difundi” e que “não estava ciente dos detalhes do projeto”, apesar de haver provas de se ter encontrado várias vezes com os obscuros promotores do processo.
Em meados de maio, escreve o Página 12, a juíza encarregue do caso, María Servini requereu ao Banco Central da Argentina que levante o segredo bancário sobre as contas do presidente e da sua irmã Karina, que ele empregou na presidência e que recebeu os acusados da burla, bem como de três outros investigados aos quais as contas foram congeladas.
Há ainda um caso em curso nos Estados Unidos, no Tribunal do Distrito Sul de Nova Iorque, que também cita Milei por causa da sua promoção e das reuniões com os seus criadores. Esta instância judicial também já tinha congelado 289 milhões de dólares de contas bancárias dos fundadores da $Libra nos Estados Unidos.