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Memórias: Velimir Khlébnikov

No dia 28 de julho de 1922, morreu Velimir Khlébnikov. Foi um um poeta, pensador, ornitólogo, matemático, pintor russo e uma figura proeminente na arte vanguardista. Por António José André.
Velimir Khlébnikov.

Velimir Khlébnikov nasceu a 9 de Novembro de 1885. Viktor Khlébnikov, que substituiu o seu nome latino pelo eslavo Velimir (que significa "grande mundo"), nasceu numa família de um ornitólogo: um dos fundadores do horto florestal de Astrakhan.

A família Khlébnikov mudava frequentemente de residência. Em 1898, mudou-se para Kazan, onde o poeta se formou no liceu. Lá evidenciaram-se as suas primeiras paixões: matemática, ornitologia, língua e literatura russas.

Em 1903, Khlébnikov ingressou na Universidade de Kazan, na Faculdade de Física e Matemática, onde estudou Matemática e, mais tarde, se interessou por Zoologia. Em 1908, mudou-se para São Petersburgo e ingressou na Faculdade de Ciências Naturais.

Depois mudou-se para a Faculdade de História e Filosofia.
Conheceu o grupo de jovens artistas (os irmãos Burliuk, Aleksei Kruchónykh, Elena Guro, Vassíli Kamiénski, Vladímir Maiakovsk, Benedikt Livshits, Olga Rozanova e Kazimir Malevitch) do qual resultou a formação do movimento dos cubo-futuristas.

A primeira apresentação conjunta dos cubo-futuristas na imprensa foi o almanaque poético "Viveiro dos Juízes" (1910), impresso na parte de trás de um papel de parede.

Khlébnikov foi inspirador e um dos autores (juntamente com David Burliuk, Vladímir Maiakovski e Aleksei Kruchónykh) do Manifesto do Futurismo Russo. Os futuristas russos chamavam-lhe "o Presidente do Globo Terrestre"; Maiakovski chamava-lhe "o Colombo dos novos continentes poéticos"...

Nas suas obras está espalhado um conjunto de previsões, cuja grande maioria se mostrou profética. Eis algumas delas:

- A proclamação da independência do Egito - Khlébnikov predisse que, em 1922, seria criado um "grande estado em África";
- A Primeira Guerra Mundial – no seu Apelo aos Estudantes Eslavos, escreveu: "Em 1915, as pessoas vão entrar em guerra e serão testemunhas da queda do estado";
- O colapso das Torres Gémeas – no poema "Ladomir" (1920), o poeta escreveu: "Os castelos do comércio mundial/Onde as cadeias da pobreza brilham/Transformam-se um dia em cinzas";
- A internet e a televisão – no ensaio-utópico "Rádio do Futuro" (1921), o poeta descreve a internet, apenas lhe dá outro nome, bem como a televisão, chamada "rádio para os olhos".

Khlébnikov apoiou a Revolução de 1917 e os bolcheviques. Para ele, os acontecimentos revolucionários foram entendidos como um caminho para a humanidade manifestar a sua livre vontade. Depois da revolução de Outubro, trabalhou nos órgãos de propaganda e de educação em Astrakhan, Piatigorsk e Baku.

Em Dezembro de 1921, o poeta regressou a Moscovo. A atmosfera da Nova Política Económica (NEP) parecia profundamente alheia à natureza de Khlébnikov. Este não era, de todo, o mundo do futuro com o qual tinha sonhado. Khlébnikov considerava que o estado do futuro excluiria a civilização do mercantilismo mundial.

Velimir Khlébnikov viveu os últimos anos de vida gravemente doente e passando fome. O poeta morreu na aldeia de Santalov, a 28 de julho de 1922.

Após a morte, começaram a ser publicadas as suas obras. Em 1923, foi editado um livro de versos do poeta, em Moscovo. Em 1925, Kruchónykh editou o "Caderno de Notas" de Velimir Khlébnikov; em 1936, foi publicado o livro "Versos Escolhidos"; em 1940, foi editada a coletânea "Velimir Khlébnikov. Poesias"; em 1960, foi editado "Velimir Khlébnikov. Versos e Poemas". Desde 1984, a sua obra foi republicada quase todos os anos. Em 1993, foi inaugurado o Museu do poeta, em Astrakhan.

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