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Médicos de família: “Em termos de pessoal temos uma situação pior do que em abril"

O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar denuncia em entrevista ao DN que “os médicos de família e as nossas unidades de saúde estão esquecidos há muito tempo, até mesmo antes da pandemia”.
Rui Nogueira afirma que “não há unidades de saúde suficientes para responder à população, não há médicos de família, não há outros recursos” - Foto de Jornal Médico
Rui Nogueira afirma que “não há unidades de saúde suficientes para responder à população, não há médicos de família, não há outros recursos” - Foto de Jornal Médico

Esta segunda-feira, o Diário de Notícias publicou uma entrevista com Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), com o título “Investiram em ventiladores, mas esqueceram-se dos médicos de família”.

A APMGF pediu há um mês uma reunião à ministra da Saúde, Marta Temido. Rui Nogueira diz que “os médicos de família estão exaustos, os outros profissionais também”, o que é uma preocupação para a associação e devia ser também para quem manda. "Temos propostas, ideias e problemas a discutir. É estranho que não nos perguntem o que queremos, do que necessitamos e o que é preciso fazer. É triste", critica Rui Nogueira.

O presidente da APMGF afirma que “os médicos de família e as nossas unidades de saúde estão esquecidos há muito tempo, até mesmo antes da pandemia”. “Diria que há dez anos que temos um problema de esquecimento. Agora nota-se mais, muito mais, o trabalho é maior e a pressão também”, sublinha.

Rui Nogueira lembra que não havia estrutura preparada para enfrentar a pandemia, em Portugal e no mundo, e salienta que “o que estava a acontecer antes da pandemia, devido à falta de recursos, é agora ainda mais notório”. “Não há unidades de saúde suficientes para responder à população, não há médicos de família, não há outros recursos”, afirma.

Questionado se há solução para a falta de atendimento dos telefones de que se queixam os utentes, o presidente da APMGF diz que há mas que “a questão é que não faltam só telefones, mas também profissionais para atender telefones. Tem de haver pessoas para tudo, não basta termos mais linhas de telefones”, sublinha.

“Há anos que estamos com escassez de recursos e com ausência de um plano de investimento nas unidades de saúde de proximidade, que são essenciais e não têm visibilidade nenhuma”, frisa Rui Nogueira, criticando: “investiram em ventiladores, mas não se lembraram sequer de investir em telefones ou em pessoas para os atender”.

O presidente da APMGF aponta também que é na região de Lisboa onde há mais falta de recursos e considera que são necessárias medidas específicas para a Grande Lisboa para resolver os problemas dos centros de saúde desta área, “que têm mais de dez a 15 anos”. Acrescenta ainda que são precisas novas unidades de saúde.

“Já disse a vários ministros: 'Se tivesse os 500 médicos que faltam em Lisboa onde os colocaria?' Não há espaço para os colocar, como não há espaço para consultórios, computadores e para os outros profissionais”, diz Rui Nogueira, apontando que é necessário “um plano plurianual para os cuidados primários, um plano para mais do que uma legislatura, para mais do que um ministério ou ministro”.

Sobre o que é urgente nos cuidados primários, o presidente da APMGF diz que é necessário “diminuir alguns trabalhos que temos de fazer e que não são essenciais para aumentar a capacidade de resposta aos doentes covid e não covid”, como aumentar a capacidade de pessoal para atender telefones.

À pergunta “ainda há medidas de contenção na contratação de profissionais”, Rui Nogueira afirma: “Claro que há. São as tais medidas políticas restritivas de ausência de investimento nos centros de saúde. Tem de se mudar isto”.

"Conseguiremos aumentar a capacidade de resposta se nos aumentarem o número de profissionais. Precisamos de mais recursos em todas as áreas, não só de médicos. Em termos de pessoal temos uma situação pior do que em abril", conclui o médico.

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