Frente a frente

Mariana vinca justiça fiscal e tetos às rendas como diferenças face ao PAN

10 de abril 2025 - 23:51

Num debate onde se falou da guerra comercial de Trump, da política de armamento europeia e da questão da violência sobre mulheres, as diferenças acentuaram-se nos temas da habitação e da política fiscal.

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Mariana Mortágua e Inês Sousa Real
Mariana Mortágua e Inês Sousa Real

O frente a frente entre Mariana Mortágua e Inês Sousa Real desta quinta-feira na CNN Portugal percorreu vários temas, com ambas as candidatas a assinalar as convergências em temas como o feminismo, os direitos dos animais, a importância da causa ambiental e da transição energética. No plano das diferenças o destaque foi para a habitação e para a justiça fiscal.

As primeiras questões do debate foram sobre a guerra comercial, com Mariana Mortágua a caracterizar Donald Trump como um bully ao qual não se pode ceder na sua chantagem de querer vender mais gás à União Europeia. Pelo segundo debate consecutivo, o moderador perguntou onde é que o Bloco estaria “disposto a ceder” no seu programa face a uma recessão e a dirigente bloquista contestou essa premissa como estando “errada à partida”: “a ideia que é preciso ceder e fazer sacrifícios se entrarmos em recessão é uma ideia que nós já percebemos que só leva a mais recessão e mais crise”, contrapôs, para além de salientar como resposta à pressão do governo norte-americano a proposta de taxar os gigantes tecnológicos, a chamada taxa Musk, aplicada às empresas tecnológicas e das redes sociais “que usam os nossos dados e isso é atacar onde dói: é atacar nos oligarcas que estão a apoiar Donald Trump”, considerou.

O segundo tema lançado para debate também já tinha sido objeto do frente a frente entre Bloco e PS, a política de armamento. Mariana Mortágua voltou igualmente a desmontar a retórica de que a Europa precisaria de mais armas para se defender. Para ela, o ataque às democracias europeias é “interno”, vem “da extrema-direita, da manipulação das eleições”. Assim, “Putin não precisa de invadir a França para dominar as políticas em França. Basta-lhe que Le Pen ganhe as presidenciais porque é sua aliada”.

Soluções para a crise da habitação e redução de impostos às grandes empresas foram os temas da discórdia 

O terceiro tema da noite também foi repetido desse debate mas serviu para vincar uma diferença entre os dois partidos presentes neste debate, a habitação. Enquanto Inês Sousa Real defendeu medidas já implementadas como benefícios fiscais e apoios às rendas, a par da mobilização de edifícios públicos e do aumento da construção, Mariana Mortágua sublinhou que o Bloco de Esquerda é o único que defende a implementação de tetos às rendas, “uma medida que permite baixar o preço das rendas para valores que sejam compatíveis com os salários e com a vida em Portugal”. O partido sublinha que a medida resultou em países como a Alemanha ou como a Holanda e que é uma resposta para agora, porque os preços “não pararam de aumentar” nos últimos dez anos enquanto outras medidas foram implementadas, como os benefícios fiscais.

Mas a maior diferença entre Bloco e PAN sublinhada neste debate chegou a seguir com a questão fiscal. A dirigente bloquista classificou como “um erro a proposta” do PAN de descer o IRC de 21% para 17% porque “beneficia as grandes empresas”, já que as pequenas e médias pagam um IRC mais reduzido. Para além disso, teria um custo orçamental de quase 1.500 milhões de euros “e nós precisamos desses 1.500 milhões de euros para intervir na transição energética”.

Outro erro semelhante apontado foi relativamente ao IRS Jovem que teria um custo 1.000 milhões. E se Inês Sousa Real garante que o seu partido não diaboliza as empresas e que o IRS jovem não beneficiaria apenas os jovens mais ricos, Mariana Mortágua rejeita essa explicação e assegura que esse dinheiro faz falta e “é preciso para investir nos serviços públicos”. Para além disso, quer “taxar os grandes lucros das grandes empresas porque achamos que essa é uma forma de ter transição energética e ambiental”.

Neste tema, uma outra diferença está na oposição do Bloco a oferecer benefícios fiscais para instrumentos financeiros emitidos por empresas chamados os “Green Bonds”, dando o PAN como exemplo a Altri. A porta-voz bloquista salienta que esta empresa de celulose é contestada na Galiza pelas ONGs ambientais por causa da megafábrica que quer aí implementar.

Ao terminar o debate, foi altura de falar sobre um tema consensual entre as duas forças políticas: o feminismo e a proposta de tornar a violação crime público. Mariana Mortágua destacou a convergência no combate a uma “cultura de ódio às mulheres que tem sido promovida pela extrema-direita nas redes sociais através de influencers e banalizada, legitimada por atores de extrema-direita e que tem de ser combatida”.