A Comissão de Inquérito ao BES durou quase dez horas a inquirir Ricardo Salgado mais uma vez, sem que o ex-presidente do BES saísse da sua linha de atribuir ao Banco de Portugal as culpas pela falência do banco e isentar-se a si mesmo de quaisquer responsabilidades.
Seis anos a pedir dinheiro para um grupo falido
Prejudicada pelo horário – só começou a fazer perguntas a Ricardo Salgado às 20h30 –, a deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, surpreendeu o banqueiro quando lhe perguntou se tinha alguma ideia qual foi a entrada de dinheiro no BESI entre 2004 e 2013.
O banqueiro diz não ter elementos para responder. Mariana responde: 710,232 milhões de euros. E adiantou que do mesmo grupo e nos mesmos anos saíram 5.683,902 milhões de euros. “E por isso”, prosseguiu a deputada, o grupo endividou-se em 4.000 milhões.
“Ou seja”, resumiu a deputada, “andou seis anos a pedir dinheiro emprestado para um grupo falido. E nós ainda não conseguimos entender porquê”.
“Isto parece conversa de jogador”
Ricardo Salgado diz não poder confirmar os números, mas reconhece que “nós de facto tivemos uma aceleração do endividamento e dos juros”, mas afirma que “tínhamos a convicção de que iríamos dar a volta” e diz que o ETTRIC [Exercício Transversal de Revisão da Imparidade da Carteira de Crédito] o confirmou, citando então a página 25 (a memória voltara) onde se afirma “que o Grupo ESI era viável e sustentável”.
Mariana Mortágua respondeu: “A ideia de que há um momento em que vai dar a volta, de que há um aumento de capital que faz virar a situação... isto parece conversa de jogador: 'Da próxima vez eu ganho'. Anos a fio a dizer 'da próxima vez é que é!'”, recordando a Salgado que no próprio ETTRIC se dizia “que o plano tinha grandes riscos de execução, não era trigo limpo que se podia recuperar o grupo...”