No debate televisivo (que pode ouvir aqui) com o líder do Chega, Mariana Mortágua voltou a defender a proposta do Bloco sobre a proibição da venda de casa a não residentes, alertando que são preciso medidas que limitem as rendas, mas também a procura de luxo que, tal como confirma o Banco de Portugal, está a pressionar os preços das casas. E esta procura de luxo vem, conforme sublinhou a coordenadora bloquista, do benefício fiscal de 1500 milhões por ano a residentes não habituais, medida que o Chega apoiou, e também dos vistos gold.
A este respeito, Mariana Mortágua confrontou André Ventura com a proposta do seu partido no sentido de reintroduzir vistos gold em Portugal “que são um convite à especulação e corrupção”, bem como de repor a lei Cristas e acabar com a proteção dos idosos na habitação.
O dirigente do Chega reforçou a ideia de premiar a especulação imobiliária milionária e acusou o Bloco de querer pôr “o Estado a dominar tudo” e de insistir no “disparate comunista que quer atacar proprietários”.
Ainda sobre a temática da habitação, Mariana Mortágua enfatizou que André Ventura não se preocupa com quem não consegue pagar a sua casa porque o candidato tem uma única preocupação: “os interesses imobiliários, porque são eles que financiam o seu partido”. Interesses imobiliários esses que, segundo lembrou, estavam ligados na altura ao Grupo Espírito Santo. Em causa estão, por exemplo, ex-administradores do braço do Grupo Espírito Santo para interesses imobiliários envolvidos no negócio do Vale do Lobo, que esteve em foco nas comissões parlamentares à Caixa Geral de Depósitos e ao BES. E “esses interesses imobiliários querem que os preços subam”, apontou a coordenadora do Bloco.
“O que nos separa neste debate é que eu quero que as pessoas consigam aceder a uma casa com o seu salário, e André Ventura quer defender vistos gold, que são porta aberta à corrupção e quer defender interesses imobiliários”, afirmou Mariana Mortágua.
A líder bloquista referiu também o caso dos CTT e da TAP: “Defenderam a administração privada dos CTT e estavam a ser financiados pelos donos dos CTT. Esteve numa comissão de inquérito à TAP e nunca disse a ninguém que o Chega recebia dinheiro dos acionistas privados da TAP”, exemplificou Mariana Mortágua.
Relativamente às propostas do Chega no âmbito do IRS, a coordenadora do Bloco explicou que as mesmas também servem os interesses de quem financia o Chega, como é o caso do acionista privado da TAP David Pedrosa, que, enquanto administrador da transportadora aérea, recebia 440 mil euros de salário, e que com a proposta avançada por André Ventura, de menos impostos para milionários, teria uma borla fiscal de 64 mil euros.
No que respeita à proposta do Chega de redução do IRC em seis pontos percentuais, Mariana Mortágua mostrou como as borlas fiscais vão para os de sempre: uma borla de 50 milhões de euros para o Santander, de 25 milhões para o BCP, de 160 milhões para a Galp e de 180 milhões para a EDP.
A este respeito, André Ventura defendeu que premiar a banca e essas empresas com uma redução de IRC é atrativo para o investimento, e acusou o Bloco de querer destruir economia e emprego.
No âmbito do combate à corrupção, Mariana Mortágua lamentou que o Chega não acompanhe a proposta do Bloco para que qualquer utilização de offshores seja considerada ilegal em Portugal e que, inclusive, seja contra qualquer medida para controlar offshores.
Durante o debate, André Ventura voltou a levantar a falácia de que o país está a ser invadido por imigrantes e defendeu um regime de quotas. Para esse efeito, falou de 1 milhão de supostos asilos no espaço europeu, ou de 300 milhões de imigrantes dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em Portugal. Ventura frisou ainda que as mulheres imigrantes não devem vir a Portugal ter filhos e garantiu que iria revogar as autorizações de residência CPLP.
Mariana Mortágua teve de explicar ao candidato do Chega que o bloqueio à entrada no nosso país dos imigrantes que escolhem Portugal para aqui viverem e aqui trabalharem traduzir-se-ia no caos na economia, com setores de atividade como a agricultura, pescas, construção, cuidados a definharem. E o mesmo caos na Segurança Social, na medida em que por cada euro que os imigrantes recebem pagam 7 euros à Segurança Social, contribuindo com 1800 milhões de euros anualmente para garantir o pagamento das pensões aos atuais reformados.
Ao discurso de ódio de Ventura, às propostas que atiram os imigrantes para situações de clandestinidade à mercê de máfias, Mariana Mortágua contrapõe com a regularização deste imigrantes e a sua integração. A coordenadora bloquista realçou que é por causa destas "posições racistas e xenófobas" que o Bloco está mais próximo de condicionar o Governo do que o Chega, na medida em que “ninguém se quer sentar ao seu lado”, incluindo os partidos da direita a quem chamou “prostitutas políticas”.
Neste frente a frente, veio ainda a discussão a proposta do Chega de cortar 400 milhões nas medidas de igualdade de género, que incluem o abono família ou a proteção das vítimas de violência doméstica.