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Marcas contornam restrições à publicidade alimentar para crianças

As marcas alimentares encontraram estratégias para poderem continuar a publicitar junto das crianças os seus alimentos e bebidas que não cumprem o perfil nutricional definido pela Direção Geral de Saúde, concluiu um estudo desenvolvido em simultâneo em Portugal, Noruega e Reino Unido por iniciativa da Organização Mundial de Saúde.
Segundo os dados recolhidos e citados pela agência Lusa, mais de metade dos anúncios a alimentos e bebidas foram vistos no Instagram (56%), 17,5% no YouTube, 14,5% no TikTok, 6,4% no Twitter, 5,6% no Facebook. Em Portugal, o estudo acompanhou 44 crianças entre os 3 e os 16 anos entre 28 de fevereiro do ano passado e 20 de janeiro deste ano. Nesse período, as crianças estudadas foram expostas a 18.469 anúncios quando usavam os smartphones ou tablets, 8% (1.476) dos quais a alimentos e bebidas. Destes, 37% são de marcas independentes da indústria alimentar, 24% de aplicações de entrega de refeições e 11% de supermercados.
Para contrariar o efeito negativo deste marketing alimentar dirigido às crianças, foi aprovada em 2019 uma lei que proíbe a publicidade dirigida a menores de 16 anos a alimentos e bebidas que não cumpram o perfil nutricional definido pela DGS. O que o estudo conclui é que as marcas encontraram formas de contornar a lei. Por exemplo, introduzindo sistemas de verificação de idade ou publicitando a marca em vez dos produtos.
No caso dos 642 anúncios de marcas independentes da indústria alimentar e fast-food, 81% eram referentes a alimentos não saudáveis que não cumprem o perfil nutricional definido pela DGS. O maior anunciante desta categoria é o Burger King, seguindo-se as marcas Starbucks, Milaneza, 7Up, GoChill (Delta), Coca-Cola, Pizza Hut, Doritos, Compal e Taco Bell.
Quanto ao tempo de visualização médio de cada anúncio a alimentos e bebidas, apenas calculado a partir da plataforma Youtube, o estudo conclui que os anúncios que cumprem o perfil nutricional da DGS captaram cerca de metade da atenção (5 segundos) do que os que não cumprem esse perfil (9,5 segundos).
Ao jornal Público, a diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da DGS explica que esta amostra só permite identificar anúncios pagos, ou seja, "há muitas fontes e formas de exposição ao marketing alimentar que este estudo não avaliou”. Mas é suficiente para perceber como as marcas se adaptaram à nova lei.
“Temos uma publicidade à marca A, B ou C, que sabemos que pode ser uma marca específica de refrigerantes ou de hambúrgueres, mas não está lá o produto identificado. Isso pode abrir a porta a que a publicidade possa estar enquadrada dentro da lei, porque não há o produto que tem as características que o permitem enquadrar como não saudável. Este é um dos desafios que temos neste momento e com o qual nos deparámos em muitos dos anúncios”, explicou Maria João Gregório.
Quanto ao sistema de verificação de idade, semelhante ao usado nos sites de bebidas alcoólicas, a responsável da DGS considera que são "falsos mecanismos de restrição de acesso", pois não há verificação efetiva e facilmente se tem acesso ao introduzir uma idade ou ano de nascimento que permite a entrada nesse site.
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