A fábrica de confeção Bipol Fashion, especializada em roupa interior que exportava para mercados como o Reino Unido, os EUA e o Canadá, fechou portas no início da semana passada depois da pausa das férias iniciada a 16 de agosto. Deixou 40 trabalhadores, na maioria mulheres, sem trabalho e sem acesso ao subsídio de desemprego uma vez que não cessou oficialmente os contratos de trabalho.
Os trabalhadores tinham recebido uma nota da gerência na sua última semana de férias na qual se comunicava com “tristeza e pesar” que a fábrica não iria reabrir como previsto a dia 9 de setembro, justificando-se com “um período de grandes dificuldades económicas” causado “pela falta de encomendas, custos dos fatores de produção e carga fiscal”.
Ficou por pagar o salário de agosto, o subsídio de férias e os dias setembro até ao encerramento.
Na passada terça-feira, concentraram-se em frente a fábrica na Rua da Caldeiroa, em Urgezes, para protestar contra a situação.
Queixas de falso lay-off
Nesta ocasião, contaram ao Jornal de Notícias que, entre 12 de novembro de 2022 e 12 de maio de 2023, a empresa as tinha colocado em lay-off, mantendo-as ao mesmo tempo a trabalhar. Para elas, a insolvência será uma forma de fugir às responsabilidades sobre esta situação.
Segundo Vera Coelho, que trabalhou dez anos na fábrica, as suspeitas começaram quando o sócio-gerente passou a mandar os trabalhadores para casa e a pagar na mesma esse dia. Acabaram por saber mais tarde, pela Segurança Social, que a empresa se encontrava em lay-off pelo que apenas poderiam trabalhar o número de horas equivalente a um dia de trabalho por semana.
Outra ex-trabalhadora, Fernanda Gonçalves, que já se tinha despedido em fevereiro acusando a empresa de maus-tratos, liga diretamente as duas situações: “este encerramento acontece porque a Autoridade para as Condições de Trabalho agora está em cima da situação e a empresa vai ter de devolver todo o dinheiro que recebeu indevidamente da Segurança Social”,
Francisco Vieira, coordenador do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes, acrescenta que o encerramento e abertura de fábricas pelos mesmos donos é um procedimento habitual: “nesta região, estamos habituados a que encerrem muitas empresas e que, ao mesmo tempo, nasçam muitas outras. Fecha a ‘Francisco A’ e abre a ‘Francisco B’, no mesmo local, com as mesmas máquinas, a trabalhar para os mesmos clientes, com os mesmos funcionários, menos dois ou três, para poupar nos custos”.
O dirigente sindical acrescenta: “Não digo que é isso que vai acontecer aqui, mas não nos podemos esquecer que neste local já funcionou a Lauda Confeções”.
Outras duas fábricas encerraram no início deste mês em Guimarães
Em mais duas fábricas têxteis do concelho outros 29 trabalhadores ficaram sem emprego depois das férias.
Trata-se da fábrica têxtil António Martins e Ana Ribeiro, em Atães, onde oito trabalhadoras foram surpreendidas com o encerramento no dia 4 de setembro. Ficaram com um mês de salário em atraso e sem o pagamento do subsídio de férias.
No mesmo dia, a fábrica de têxteis para o lar Fátima Lemos & Lemos, situada em Pevidém, encerrou também sem aviso.
Bloco questiona governo
Em ambos os casos, o Bloco de Esquerda distrital se mostrou solidário com os trabalhadores e o seu grupo parlamentar questionou o Governo sobre a situação.
O mesmo o fez depois sobre a Bipol Fashion. Em pergunta dirigida à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho, lembrando os contornos do caso, o partido considera “necessária e urgente” a intervenção do Governo e da Autoridade para as Condições do Trabalho para fazer cumprir os direitos das trabalhadoras.
O documento assinado pelo deputado José Soeiro pretende ainda saber se o executivo e a ACT estão a par da situação.