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Mais de mil migrantes são explorados na apanha ilegal de amêijoas no Tejo

O projeto de investigação Nipoges do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade contabilizou 1.128 apanhadores ilegais de amêijoa no Tejo num estudo realizado entre 2019 e 2022. Em contraste, os mariscadores aí licenciados em 2019 eram apenas 190. Trata-se de um negócio com um rendimento anual estimado de 17,7 milhões, para perto de 5.600 toneladas de amêijoa apanhada, que não paga impostos nem vende em lota e exporta sem controlo sanitário.
Na sua edição semanal, o Expresso revela os detalhes desta investigação que se centra na exploração da amêijoa japonesa no estuário do Tejo, uma espécie considerada invasora apanhada “numa área onde é maioritariamente proibida ou com classificação C, devido aos níveis elevados de contaminação que a tornam imprópria para consumo sem tratamento”. Conclui-se que área desta espécie nesta zona aumentou, foi encontrada em 73% da parte analisada, e que há “menos abundância e menor tamanho, duas consequências da sobre-exploração”.
Paula Chainho, a coordenadora do estudo, explicou àquele jornal que “tudo o que acontece ali é ilegal a inúmeros níveis. A pesca é a única forma de controlar a expansão desta espécie invasora, mas não assim, de forma desregulada. Com uma apanha sustentável e controlada pode minimizar-se os impactos e aproveitar a importância sócio-económica da amêijoa japonesa”. A especialista foi encarregue pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas de criar um “Plano de Ação Nacional para a Amêijoa Japonesa” que será entregue em novembro.
Os investigadores farão uma nova contabilização mas creem que tem existido uma redução dos apanhadores no estuário do Tejo que acompanha um aumento da utilização da ganchorra em embarcação, uma forma de arrasto que revolve o fundo para recolher os bivalves. Ainda assim, continuam a existir “milhares de apanhadores, muitos migrantes, que são explorados e coagidos”, que “fazem duas marés, vivem em condições indignas, ganham o mínimo”, escreve o Expresso.
Fonte policial indica que “os portugueses e os europeus, de leste, romenos e moldavos, foram desaparecendo e a maioria dos apanhadores agora é de origem asiática. Primeiro vieram os tailandeses, mas já há nepaleses e malaios. Foram explorados na agricultura e agora vêm para aqui, onde conseguem ganhar um pouco mais”. Esta fonte acrescenta: “não me parece que haja menos pessoas no rio. Aliás, acho que isto está cada vez pior”. As redes que exploram estas pessoas são lideradas por portugueses, afirma-se, e exportam para vários países usando guias com origem falsificada no Sado.
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