Um inquérito realizado durante o mês de janeiro a 2.529 professores de todo o país mostra que 59% dos docentes que responderam foram já alvo de bullying. Esta “grande extensão do problema” é considerada pela entidade que implementou a análise, a Missão Escola Pública, “uma realidade alarmante”.
Relata-se “um impacto significativo na saúde emocional dos docentes, afetando a sua motivação, auto-estima e capacidade de continuar a exercer a profissão”.
De acordo com as respostas obtidas, na maior parte estes abusos têm origem nos alunos (57,2%). Pais e encarregados de educação são os responsáveis seguintes (53,5%).
As situações de abuso são sobretudo agressões verbais (63,3%) e ameaças (47%) mas o mesmo documento indica que 9,5% dos professores dizem ter sido alvo de agressões físicas no curso do seu trabalho. 87% delas cometidas por alunos, 8% por pais e encarregados de educação, 2% da responsabilidade de elementos da direção da escola.
Mas as direções escolares são denunciadas sobretudo enquanto “principais perpetradoras de coação e ameaças contra os docentes”. “43% dos professores já sofreram coação, com 59% dos casos atribuídos às direções escolares, destacando a violência institucional como uma questão crítica”. 10% revelam que foram pressionados a aceitar horas extraordinárias, 11% contam que já estiveram de baixa durante o atual ano letivo por causa do desgaste causado por situações como indisciplina dos alunos, burocracia, sobretrabalho e, precisamente, coação por parte das direções escolares.
O documento permite ainda traçar uma imagem das vítimas de bullying. Por género são as mulheres que são mais atacadas desta forma (62% face a 57% dos homens). Por idade, são os docentes nas faixas etárias mais avançadas os maiores alvos, nomeadamente aqueles entre os 51 e os 60 anos (com 45% deles alvo de bullying). Por região, o distrito de Lisboa é o mais afetado pelo problema com 26,3% dos casos, depois o Porto (com 18,1%) e Setúbal (com 15,4%). Do lado contrário, Guarda e Viseu são os distritos onde estas situações menos acontecem.
Em declarações à Renascença, a porta-voz desta estrutura, Cristina Mota, avalia os dados como “muito preocupantes” e revela que foi pedida uma audiência ao ministro da Educação sobre o tema. Para ela, as respostas ao inquérito desvelam “um problema grave e crescente no ambiente escolar, evidenciado pela “falta de apoio institucional”. Também por causa deste sentimento de falta de apoio, o inquérito terá servido “para muitos professores desabafarem e partilharem as suas vivências” já que “muitos estão em silêncio” e “ao que parece não reportaram os casos a mais ninguém”.
O movimento pugna por um reforço das medidas preventivas e de apoio psicológico. A esmagadora maioria dos docentes, 70%, vincam que “não existem medidas eficazes por parte das instituições para lidar com estas questões, o que aumenta o cansaço e a frustração profissional”.
Sobre o papel das direções escolares, esta professora sublinha que há “um destaque bem visível” destas “o que mostra que o modelo tem de ser revisto porque a autocracia que se vive em ambientes escolares está a causar um desconforto muito significativo”.