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“Machismo é crime” gritou-se em Lisboa, Porto, Coimbra e Évora
Centenas de pessoas juntaram-se nesta sexta-feira, 27 de outubro, para protestar contra o vergonhoso acórdão judicial do Tribunal da Relação do Porto, assinado pelos juízes desembargadores Neto de Moura e Maria Luísa Arantes.
No vergonhoso acórdão os autores, em contradição com a Constituição da República Portuguesa, acusaram a a vítima, justificaram a violência sobre a mulher e chegaram ao cúmulo de escrever: "O adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte. Na Bíblia, podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte".
“Mexeu com uma, mexeu com todas”
Em Lisboa, uma concentração, convocada pela UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta e pelo movimento feminista "Por Todas Nós”, juntou centenas de pessoas na Praça da Figueira, no centro da cidade.
“Machismo é crime”, “Juiz machista não faz justiça”e “Mexeu com uma, mexeu com todas”, foram algumas das palavras de ordem mais gritadas. Nos cartazes empunhados podiam ler-se frases como “Contra a cobardia”, “No século XXI não queremos juízes do século XIX”, ou “Diga não à violência contra a mulher”.
“Mais uma vez a justiça teve uma decisão altamente sexista, a decisão do Tribunal da Relação envergonha-nos e choca-nos. Nada justifica a violência contra as mulheres, estamos aqui para dizer basta”, afirmou, segundo a Lusa, Joana Sales, dirigente da UMAR.
Sandra Cunha, deputada do Bloco de Esquerda, defendeu que haja “uma especialização de todos os agentes que trabalham nestas situações” os técnicos das instituições, mas também” os agentes dos tribunais e os próprios magistrados”.
“Que quem julgue estes processos esteja apetrechado de todo o conhecimento e que se pare de desvalorizar o crime que mais mata”, afirmou Sandra Cunha, lembrando que há no país uma "cultura de desculpabilização da violência domestica” e que este tipo de acórdão não é caso único do juiz nem caso único do sistema judicial. “É recorrente na Justiça as penas aplicadas serem penas suspensas, são recorrentes os processos arquivados”, sublinhou.
No Porto, a concentração foi convocada pela rede de ativistas feministas “Parar o Machismo, Construir a Igualdade” e nela participaram meio milhar de pessoas, segundo a Lusa.
Presente no protesto, o escritor Richard Zimmler disse à agência que se juntou aos manifestantes para "mostrar solidariedade às vítimas de abusos, de violações, e para exigir um sistema de justiça que responda às necessidades e que defenda as pessoas mais frágeis e vulneráveis".
Richard Zimmler criticou o acórdão, considerando que "o raciocínio do juiz é um bocado grotesco ao referir a Bíblia" e apontando: "a parte mais preocupante, para mim, é esta tentativa de legitimar a utilização da violência doméstica. O sistema de justiça que legitima a utilização de violência é um falso sistema de justiça".
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