Lula da Silva discursou no Parlamento português na manhã desta terça-feira, antes do início da sessão solene do 25 de Abril. Um discurso que a bancada da extrema-direita tentou perturbar, exibindo cartazes e pateando algumas passagens, com as restantes bancadas a abafarem as pateadas com aplausos. O protesto mereceu uma reprimenda do presidente da Assembleia da República, com Augusto Santos Silva a dirigir-se à bancada do Chega pedindo que "se comportem com urbanidade, cortesia e educação". "Chega de insultos, chega de envergonhar as instituições, chega de envergonhar o nome de Portugal", afirmou Santos Silva, aplaudido pelas restantes bancadas e pelos convidados nas galerias. Fora do Parlamento, a manifestação convocada pela extrema-direita atraiu apenas algumas centenas de pessoas, ultrapassadas em número pela concentração de apoiantes de Lula da Silva convocada pelo núcleo do PT em Portugal.
Contra o alarmismo e a propaganda, o povo recebeu @LulaOficial em Portugal de braços abertos. Até breve, querido presidente! #LulaEmPortugal
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— Núcleo do PT Lisboa (@PTLisboaOficial) April 25, 2023
No seu discurso, Lula evocou o 25 de Abril, que permitiu que “Portugal desse um verdadeiro para o futuro”. "Do outro lado do Atlântico, nós brasileiros assistimos, com admiração e esperança, a Revolução dos Cravos dar origem a uma vibrante democracia parlamentar, com as impressionantes conquistas políticas e sociais alcançadas desde então", prosseguiu o chefe de Estado brasileiro, afirmando que "o êxito de nossos irmãos portugueses nos mostrava que, em breve, seria a vez de nós brasileiros iniciarmos nossa jornada rumo à reconquista da liberdade e da democracia".
"Nos últimos dias, tive aqui em Portugal a inconfundível sensação de estar em casa, sentimento que, acredito, é compartilhado por todos os brasileiros que visitam Portugal e todos os portugueses que visitam o Brasil", disse Lula da Silva aos deputados, num discurso que recordou também "os momentos de ameaça" à democracia vividos no seu país. "Saudosos do autoritarismo tentaram atrasar o relógio em 50 anos e reverter as liberdades que conquistamos. Os portugueses assistiram a tudo, preocupados com a possibilidade de que o Brasil desse as costas ao mundo", sublinhou, evocando também os 700 mil mortos por causa do Covid no Brasil, considerando que "metade dessas mortes poderiam ser evitadas não fossem as fake news, o atraso na obtenção de vacinas e a negação da ciência feita pela extrema direita no meu país".
O tema da guerra da Ucrânia também esteve presente na cerimónia, primeiro com Augusto Santos Silva a dizer que o cravo vermelho de Abril "simboliza a liberdade por que se batem hoje os ucranianos" e considerando "urgentíssimo trocar as armas pelas conversações diplomáticas", com as políticas externas portuguesa e brasileira a terem de "convergir a favor da paz".
Por seu lado, Lula da Silva reafirmou a condenação da invasão da Ucrânia e defendeu que "quem acredita em soluções militares para os problemas atuais luta contra os ventos da História. Nenhuma solução de qualquer conflito, nacional ou internacional, será duradoura se não for baseada no diálogo e na negociação política".
"Todos nós fomos afetados, de alguma forma, pelas consequências da guerra. É preciso falar da paz. Para chegar a esse objetivo, é indispensável trilhar o caminho pelo diálogo e pela diplomacia", continuou Lula, defendendo também a reforma das instituições das Nações Unidas, como o alargamento do Conselho de Segurança que atualmente está paralisado, tornando-o mais representativo das regiões do globo.
"Que deus abençoe Portugal, abençoe o Brasil, e viva a liberdade e a democracia. E não ao fascismo político e injusto", concluiu Lula da Silva, num discurso aplaudido de pé pelas bancadas da esquerda e por alguns deputados do PSD, cujo líder Luís Montenegro assistiu nas galerias sem nunca aplaudir. Em seguida, Augusto Santos Silva pediu "formalmente desculpa em nome do Parlamento português" ao Presidente brasileiro pelas perturbações da extrema-direita e elogiou "a coragem e educação de que deu provas" ao longo do seu discurso.