A junta militar que tomou o poder na antiga Birmânia no golpe de 2021 está a ser acusada de bloquear a chegada de ajuda às regiões mais devastadas pelo sismo com magnitude de 7,7 na escala de Richter, o maior dos últimos cem anos no Sudeste Asiático. A junta enfrenta a oposição armada de uma resistência formada por várias etnias do país e apenas controla as grandes cidades e 30% do território de Myanmar. A tragédia de sexta-feira não interrompeu a guerra civil, com a junta a prosseguir os bombardeamentos.
“Em vez de concentrar cada grama de energia atenção e recursos em salvar vidas, a junta está a tomar vidas”, apontou o relator especial da ONU para Myanmar, Tom Andrews, citado pelo Guardian. Segundo os repórteres do diário britânico, na noite desta segunda-feira prosseguiram os bombardeamentos aéreos nas regiões de Mandalay e Xã.
A diretora adjunta para a Ásia da Human Rights Watch acusa a junta de continuar “a causar medo, mesmo depois de um terrível desastre natural que matou e feriu milhares de pessoas”. Para Bryony Lau, “a junta precisa de romper com a sua prática terrível do passado e garantir que a ajuda humanitária chega rapidamente àqueles cujas vidas estão em risco nas áreas atingidas pelo terramoto.”
Médicos australianos em Mandalay e Sagaing, também ouvidos pelo Guardian enquanto ajudam a coordenar a resposta no terreno, disseram que a ajuda de emergência não está a chegar às pessoas que dela precisam e que muito material é confiscado pela junta, temendo que chegue às mãos da resistência do Governo de Unidade Nacional. Mas também as próprias equipas médicas de voluntários são muitas vezes impedidas de chegar aos locais pelas patrulhas nos postos de controlo, que lhes exige uma autorização para entrarem.
Este bloqueio não é novidade para os habitantes das regiões que a junta não controla. Já durante a pandemia do covid a ajuda médica foi restringida e mesmo em 2008, à passagem do ciclone Nargis que matou 140 mil pessoas, a junta militar da altura recusaram a ajuda internacional.