Jornalistas em Congresso vão discutir modelos de financiamento para a imprensa

17 de janeiro 2024 - 21:16

Começa esta quinta-feira em Lisboa o 5º Congresso dos Jornalistas. Em entrevista à Renascença, Pedro Coelho diz que a questão do financiamento será a "mais fraturante" do evento que decorre até domingo.

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Cartaz do Congresso

Numa profissão cada vez mais mal paga e com órgãos de comunicação a debaterem-se com perspetivas sombrias quanto à viabilidade económica, os jornalistas portugueses reúnem-se esta semana em Congresso pela primeira vez desde 2017. As inscrições para participar terminam esta quarta-feira à meia noite.

Nos últimos anos, diz em entrevista à Rádio Renascença o presidente da comissão organizadora do Congresso, "batemos no fundo. O edifício jornalístico desabou e temos de o reerguer, peça a peça". Para Pedro Coelho, o modelo de sustentabilidade assente nas receitas da publicidade desapareceu e "não podemos acreditar que o capitalismo por ele próprio vai conseguir salvar o jornalismo".

"Não podemos pedir ao jornalismo que tenha a força de gerar lucro financeiro porque na base do jornalismo não está o lucro de uns quantos proprietários de meios de comunicação social, mas uma necessidade urgente de gerar lucro social", prossegue o jornalista, defendendo que a profissão deve ser encarada como "um bem público que teremos de preservar".

Antevendo que a questão do financiamento será a "mais fraturante" do evento que terá lugar no cinema São Jorge, em Lisboa, Pedro Coelho avança que "há um conjunto de comunicações sobre financiamento em que vão ser apresentadas propostas muito interessantes" e que não se pode fechar a discussão em apenas dois ou três cenários.

A situação de salários em atraso e ameaças de despedimento no grupo Global Media desde a entrada do novo acionista também não passa ao lado deste Congresso. "Como é possível que a legislação portuguesa permita que empresários que não percebem nada [da área] invistam no jornalismo? Com que intenção é que esta gente está a pôr dinheiro no jornalismo?", pergunta Pedro Coelho, lembrando que esta não é uma atividade lucrativa.

"Quem quer investir num órgão de comunicação social jornalístico para perder dinheiro, alguma intenção tem de ter. Nós também gostávamos de saber qual é essa intenção", diz Pedro Coelho, apelando a uma investigação jornalística sobre a propriedade de todos os meios de comunicação social "para perceber quem é que está por detrás de tudo isto", pois a transparência nesta área é "absolutamente obrigatória".

O 5º Congresso dos Jornalistas tem a cerimónia de abertura esta quinta-feira, 18 de janeiro, às 18h15 com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do presidente da Comissão Organizadora do 5.º Congresso dos Jornalistas, Pedro Coelho, da presidente do Clube dos Jornalistas, Maria Flor Pedroso, do presidente da Casa da Imprensa, António Borga, e de Luís Filipe Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas. Segue-se às 19h15 uma sessão com depoimentos de jornalistas da TSF, DN e JN sobre a situação que estes órgãos atravessam. Às 20h será lançado o livro “25 de Abril de 1974 – noticiar a liberdade”.

Na sexta-feira o programa inclui sessões sobre precariedade e abusos laborais, desafios éticos da profissão, condições de trabalho, (auto)censura, o ensino do jornalismo, o acesso à profissão, a preservação da memória, o jornalismo e a saúde mental, entre outros. No sábado há sessões com testemunhos de jornalistas da imprensa local e regional, além da sessão sobre modelos de financiamento do jornalismo e também a apresentação de moções. A manhã de domingo contará com sessões sobre os novos desafios da profissão, com a participação de membros de consórcios internacionais do jornalismo investigativo, a gestão de um site noticioso, a regulação dos media e os desafios e ameaças da inteligência artificial. A sessão de encerramento será no domingo às 14h, com a apresentação, discussão e votação das conclusões e propostas do Congresso, seguida da evocação dos jornalistas falecidos desde o último Congresso e das homenagens a dois deles: João Mesquita e Mário Mesquita.