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Jorge Constante Pereira (1941-2023)

Faleceu esta terça-feira o compositor, dramaturgo e pioneiro da terapia da psicomotricidade em Portugal, com um percurso associado à cidade do Porto.
Jorge Constante Pereira.

Amigo e parceiro de José Mário Branco e de Sérgio Godinho, Jorge Constante Pereira foi o elo entre os dois quando os apresentou em Paris, onde ambos estavam exilados, constando ele próprio da lista de Presos e Perseguidos Políticos do tempo da ditadura.

Um dos seus primeiros trabalhos como compositor musical foi o disco de 1975 "Cantigas de Ida e Volta", onde musicou os poemas de Sidónio Muralha, Matilde Rosa Araújo e Maria Alberta Menéres, tendo sido acompanhado pelos cantores Fausto, Vitorino e Sérgio Godinho que nele participam como intérpretes. Este foi um dos primeiros discos integralmente dedicado ao universo infantil no pós 25 de Abril.

A atenção ao universo das crianças foi assumindo a forma de diversos projetos para teatro, como o "Eu, Tu, Ele, Nós, Vós, Eles", de Sérgio Godinho, na qual participou e escreveu por exemplo a "Canção dos Abraços" - canção que faz parte do imaginário de tantos e tantas - e para televisão, como "A Árvore dos Patafúrdios" ou "Os Amigos do Gaspar" para os quais compôs dezenas de canções. O último, em colaboração com Sérgio Godinho, chegou a disco 2 anos depois. Para Sérgio Godinho (e com letra deste) compôs também um tema. "Pequenos delírios domésticos", que integra o disco Tinta Permanente. O autor e compositor recordou nas redes sociais "as imensas alegrias" que partilhou com o seu "queridíssimo amigo, parceiro, compadre".

Criou as partituras musicais para projectos teatrais de diversas companhias, nomeadamente "Mais Mar Houvesse", encenada por João Paulo Seara Cardoso.
 
Com a companhia Limite Zero participou em inúmeras criações que deixam inscrita de forma inequívoca a sua argúcia e criatividade: "Pinto Borrachudo", "O Trono saiu à rua", "Os Trabalhos de Hércules", "Em busca do Planalto perdido" ou as "Aventuras de Gulliver". Escreveu ainda o conto "O cágado perdeu as penas", para o livro "Tudo se transforma", uma iniciativa da Cooperativa o Fio de Ariana.

Terapeuta da Psicomotricidade formado pelo Instituto das Ciências da Educação da Universidade de Genebra, orientou as cadeiras de Psicologia da Educação e do Desenvolvimento na Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, onde dirigiu o Centro de Estudos de Comunicação do Instituto de Investigação Científica.

Nesse âmbito profissional dedicou-se desde sempre ao ensino e foi fundador da cooperativa O Fio de Ariana. Foi ainda autor de uma coletânea de recursos visuais e auditivos, "Digo o que faço - Faço o que digo", para apoio ao desenvolvimento da linguagem verbal e da comunicação na primeira infância (2ª edição em 2001, Areal Editores).

Ficou por tomar forma um seu último projeto de musicar uma série de poemas do "Clepsidra", de Camilo Pessanha, por si selecionado, composições das quais há apenas um primeiro registo.

Muito mais haveria para contar sobre a vida de Jorge Constante Pereira. Ficam família e amigos com a missão de continuar a dar voz a essas histórias, conclui esta nota biográfica divulgada pela família.

O Esquerda.net e o Bloco de Esquerda endereçam sentidas condolências à sua família e amigos.

O velório de Jorge Constante Pereira realiza-se a partir das 13h00 do dia 1 de Fevereiro no Tanatório de Matosinhos e a cerimónia está marcada para as 16h30.

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