Israel tentou criar grupos no Partido Trabalhista para desestabilizar liderança de Jeremy Corbyn

10 de janeiro 2017 - 17:09

Diplomata israelita gravado a revelar plano para criação de organizações e grupos de jovens para promover influência pró-israelita no Partido Trabalhista britânico e minar a liderança do seu líder, Jeremy Corbyn, um conhecido apoiante da causa palestiniana.

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Em conversas secretas, filmadas por um jornalista disfarçado, um alto funcionário da embaixada israelita em Londres, Shai Masot, descreve pormenorizadamente os seus planos para a criação de uma ala juvenil da organização “Labour Friends of Israel (LSI) – Amigos de Israel do Partido Trabalhista – explicando que já tinha montado organizações semelhantes no passado.

Masot fala das delegações de trabalhistas que convidava a visitar Israel e disse que Joan Ryan, presidente da LFI, tinha visto aprovado um orçamento de 1 milhão de libras [1.157.130 euros] para financiar mais viagens.

Nas filmagens, o funcionário israelita gaba-se de ter criado um grupo conhecido como “Amigos da Cidade de Israel” em colaboração com a AIPAC, uma influente organização de lóbi pró-Israel nos Estado Unidos da América (EUA).

Descrevendo o líder trabalhista Jeremy Corbyn como "louco", Masot conta que tinha montado uma ala de jovens dos “Amigos Conservadores de Israel” em 2015 e queria fazer o mesmo no Partido Trabalhista, mas não tinha sido bem-sucedido por causa da "crise", entenda-se a campanha interna para a eleição do líder dos trabalhistas.

Nas filmagens dessa reunião refere também que não deseja ver Jeremy Corbyn vencer a disputa da liderança contra Owen Smith e que os simpatizantes de Corbyn são "esquisitos" e "extremistas".

Numa outra reunião assume que prefere que o "o partido não fique com Corbyn". Em referência a vários deputados trabalhistas que visitaram recentemente a Cisjordânia, acrescenta: "Alguns deles estão contra Corbyn, então quem sabe?"

Corbyn é apoiante do movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) [a Israel], que Masot diz ter ficado responsável por desacreditar.

As conversas foram secretamente filmadas por um repórter da Al Jazeera, disfarçado de ativista trabalhista pró-Israel, que ganhou a confiança de Masot, tendo conseguido infiltrar-se de forma tão eficaz que acabaria por ficar responsável por criar o grupo “Jovens Trabalhistas Amigos de Israel”.

Numa conversa posterior, Masot sublinha que a organização deveria permanecer independente, mas reitera que a embaixada israelita poderia ajudar. Questionado se tinha criado outros grupos no Reino Unido, disse: “Nada que possa partilhar, mas sim. Sim, porque há coisas que, sabe, acontecem, mas é bom deixar essas organizações independentes. Mas nós ajudamo-los, na verdade”.

O jornalista conseguiu até gravar ativistas trabalhistas pró-israel a falar dos apoios financeiros recebidos da embaixada israelita. Numa conversa gravada fora de um bar londrino, Michael Rubin, o responsável parlamentar da LFI e ex-líder dos Estudantes Trabalhistas, disse: "Shai falou comigo e disse que a embaixada israelita também terá um pouco de dinheiro, o que é bom ... disse que está feliz em ajudar financeiramente um conjunto de iniciativas, então isso torna tudo mais fácil, então não acho que o dinheiro realmente venha a ser um problema".

Rubin revela inclusivé que ele e Masot "trabalham muito juntos ... mas muito disso está nos bastidores".