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Irão: Jafar Panahi é o terceiro realizador preso numa semana

Dois cineastas iranianos, Mohammad Rasoulof e Mostafa Aleahmad foram detidos por organizarem uma carta aberta criticando o uso da força pelas autoridades nas manifestações na sequência do desabamento de um prédio. Panahi ter-se-á dirigido ao procurador para se inteirar da sua situação e acabou também preso. Por Paulo Portugal.
Jafar Panahi na Berlinale. Foto de Insider.pt.
Jafar Panahi. Foto da Berlinale publicada em Insider.pt.

Depois da detenção dos cineastas iranianos Mohammad Rasoulof (vencedor do Urso de Ouro, em 2020, em Berlim, por O Mal Não Existe) e Mostafa Aleahmad, na sexta-feira passada, chega agora a notícia do aprisionamento de Jafar Panahi (vencedor do Urso de Ouro em Berlim, em 2015, por Taxi) aparentemente, por se ter dirigido ao procurador para se inteirar da situação dos companheiros detidos.

As detenções mereceram já o veemente protesto tanto do festival de Cannes, como do festival de Berlim, onde os cineastas têm exibido os seus filmes com frequência e ganho diversos prémios.

“Condenamos com firmeza as prisões bem como a onda de repressão evidente em marcha no Irão e contra os seus artistas”, pode ler-se no comunicado emitido pelo festival de Cannes, em que se apela à sua libertação imediata.

O mesmo fez Berlim, através da nota enviada pelos diretores Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian, no passado sábado, lamentando a detenção de Rasoulof e Aleahmad, e reforçando hoje mesmo essa urgência depois de se confirmar a prisão de Panah, de 62 anos: “A prisão de Jafar Panahi é outra violação da liberdade de expressão e liberdade das artes. Pedimos às autoridades iranianas a libertação imediata dos cineastas detidos”.

Recorde-se que os dois cineastas foram detidos em face dos protestos da morte de 43 pessoas vítimas do desabamento de um prédio de 10 andares, em maio passado, na cidade portuária iraniana de Abadan. Os manifestantes insurgiram-se contra as autoridades responsáveis, que apelidaram de “incompetentes”, considerando-os responsáveis pela tragédia, mas foram recebidos com gás lacrimogéneo, disparos de aviso e detenções pela polícia. Na sequência, um grupo de cineastas liderados por Rasoulof dirigiram uma carta aberta às forças de segurança, assinadas por várias dezenas de cineastas e profissionais do cinema. As autoridades iranianas acusaram os dois cineastas de ligações a grupos de oposição estrangeiros.

Pahahi tem sido bastante crítico da falta de abertura da sociedade moderna iraniana, de resto, evidenciada em vários filmes merecedores de diversos prémios em festivais internacionais. Como sucedeu, por exemplo, com Taxi, ao vencer o Urso de Ouro em Berlim, bem como o melhor guião, em Cannes por Três Rostos (2018). Panahi tinha sido preso antes, juntamente com Rasoulof, na sequência dos protestos em 2010, e sentenciado a seis anos de prisão, sendo que antes a nenhum deles foi permitido sair do país. Rasoulof vira vários dos seus filmes premiados em Cannes (Au Revoir, em 2011, Manuscripts Don’t Burn, em 2013, e Lerd, em 2017). Por cá, o Festival de Avanca distinguiu o filme Iron Island, em 2005, com dois prémios, Melhor Filme e Melhor Guião.


Texto publicado originalmente no Insider.pt.

Sobre o/a autor(a)

Jornalista de cultura e cinema, autor do site insider.pt
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