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IPO de Lisboa perdeu meia centena de profissionais num mês

Da lista de profissionais de saúde que, entre 1 de maio e 4 de junho, saíram do Instituto Português de Oncologia de Lisboa constam enfermeiros, médicos, técnicos superiores, assistentes e auxiliares. Sindicato dos Enfermeiros Portugueses denuncia "inoperância” do Governo em reter profissionais.
Foto de RickMorais, Wikipédia.

Segundo avança a TSF, 20 enfermeiros, 13 médicos, 10 técnicos superiores, quatro assistentes e três auxiliares saíram do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa em apenas um mês. A estação de rádio explica que esta realidade se deve ao facto de os profissionais de saúde, altamente qualificados, se sentirem seduzidos pela forte oferta do sector privado na região de Lisboa.

Esta sangria de profissionais tem um peso agravado, na medida em que o IPO necessita de mais 139 enfermeiros. Segundo apurou a TSF, o IPO já pediu autorização ao Governo para contratar mais 20 enfermeiros. No entanto, ainda não obteve autorização.

A carência de enfermeiros está, inclusive, a impedir a entrada em funcionamento das novas salas do bloco operatório, que contaram com um investimento de 3,7 milhões de euros. No serviço de radioterapia também faltam físicos para trabalhar com os aceleradores lineares. Desde 2009, foram comprados seis aceleradores lineares, mas a escassez de profissionais ditou que 1.200 doentes fossem encaminhados para o setor privado em 2020, o que implicou uma despesa para o erário público de dois milhões e meio de euros.

A par da necessidade de contratação de enfermeiros, o IPO de Lisboa precisa ainda de 82 técnicos de diagnóstico, 63 médicos e 70 assistentes. No total, são necessários, até ao final do ano, mais 364 profissionais de saúde.

“Há serviços que arriscam diminuir a atividade”

O presidente do IPO assegura que a capacidade de resposta do IPO no imediato não está comprometida, mas deixa o alerta: “O que está comprometido é a nossa capacidade de intensificar a nossa atividade, o que é absolutamente necessário” até porque “há listas de espera para recuperar”.

Acresce que há serviços “em que não se pode esticar mais as pessoas”, e que arriscam-se “a diminuir a sua atividade se não existirem as contratações”.

João Oliveira lamenta que o Governo “restrinja as autorizações”, sublinhando que o Serviço Nacional de Saúde seria “mais eficaz com mais agilidade de contratação”. “Não sei se a nível dos grandes setores da economia do país existe uma vontade verdadeira de fazer singrar o SNS”, assinala.

“Temos cerca de 20 mil enfermeiros que ainda não progrediram nas carreiras”

Guadalupe Simões, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, lembra que dados do Ministério da Saúde, de 15 de abril, apontavam para a saída de cerca de 800 enfermeiros, entre aqueles cujos contratos caducaram e pedidos de saída de enfermeiros.

Um “número elevadíssimo” que “demonstra a dificuldade que as instituições de saúde têm de reter os profissionais”. Guadalupe Simões dá o exemplo do Centro Hospitalar do Algarve, onde 30 enfermeiros pediram para sair.

"Há uma inoperância, uma ineficácia total, por parte do Governo, relativamente à tomada de decisões no sentido de retenção dos profissionais", acusa a dirigente sindical.

“Temos cerca de 20 mil enfermeiros que ainda não progrediram nas carreiras porque o Ministério da Saúde e o Governo continuam a não dar uma resposta que permita que enfermeiros com mais de 20 anos possam progredir e tenham salários de acordo com aquilo que deveria essa progressão. Manter enfermeiros com 20 anos ou mais de experiência na primeira posição remuneratória da carreira é como dizer: ‘Meus caros, podem sair em qualquer altura’”, continuou Guadalupe Simões.

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