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Investidura do governo catalão novamente em risco

O parlamento catalão agendou para segunda-feira a investidura de Jordi Sànchez na liderança do governo. Mas não é certo que o candidato possa sair da prisão nem que reúna os apoios necessários, após a recusa da CUP em aprovar o seu programa.
Carles Riera e Maria Servint (CUP) à saída do encontro com o presidente do parlamento Roger Torrent (ao centro). Foto Parlamento da Catalunha.

O processo de formação do novo governo catalão continua sem fim à vista. Após o recuo estratégico de Carles Puigdemont, que aceitou retirar-se da corrida à liderança do governo para evitar que a investidura fosse chumbada nos tribunais, o nº 2 da lista dos Junts per Catalunya e ex-líder da Assembleia Nacional Catalã, preso na sequência do referendo de 1 de outubro e das manifestações contra as rusgas poiciais espanholas às instituições políticas catalãs, surgiu como o novo candidato da maioria independentista.

Esta quarta-feira, o Tribunal Constitucional espanhol negou o pedido de suspensão da prisão preventiva por parte de Jordi Sànchez. O presidente do parlamento catalão enviou na terça-feira para o Tribunal Supremo um pedido para que Sànchez possa estar presente no plenário de segunda-feira, condição essencial para que a sua candidatura seja válida do ponto de vista jurídico.

Os JxCat e a Esquerda Republicana Catalã negociaram um acordo de governo e a composição do próximo executivo. Mas encontraram pela frente a oposição da CUP, o partido anticapitalista que conta com quatro deputados e anunciou a sua recusa a votar favoravelmente o novo governo, cujo programa diz ser de “submissão total à legalidade espanhola” devido à ausência de roturas com o marco autonómico e a ausência de políticas sociais.

A CUP alega que o programa de governo proposto não passa de uma “gestão do autonomismo e da miséria”, nas palavras da deputada Maria Sirvent, que esta quinta-feira afirmou em conferência de imprensa ver com dificuldade a hipótese de chegar a acordo com JxCat e ERC até segunda-feira. Para os anticapitalistas, respeitar o resultado do referendo é avançar na construção da república, ao invés de prosseguir dentro do marco da autonomia.

Com a anunciada abstenção da CUP, o problema para os dois maiores partidos do arco independentista é que sem aqueles quatro votos  e sem os dois votos dos deputados no exílio em Bruxelas - Carles Puigdemont e Toni Comín -, a soma das duas bancadas fica um voto abaixo da soma dos partidos não-independentistas. Em tom de desafio, a CUP sugere que o parlamento catalão permita a delegação de voto dos dois ex-governantes para ultrapassar o problema, o que abriria mais um conflito jurídico. “Se o JxCat, a ERC e a Mesa do Parlamento não estão dispostos a assumir esse pequeno ato de desobediência, como seremos capazes de outras desobediências?”, questionou o deputado da CUP Carles Riera, citado pelo El Periodico.

Na legislatura passada, a CUP tinha dez deputados e foi decisiva na investidura do governo, ao obrigar os dois maiores partidos a deixarem cair o seu candidato e ex-governante Artur Mas – o líder do partido Convergência ao longo de anos marcados por casos de corrupção –, abrindo assim a porta à entrada de Carles Puigdemont ao primeiro plano da política catalã. Nessa altura, Jordi Sànchez colocou-se ao lado de Mas e chegou a lamentar publicamente ter apelado ao voto do eleitorado independentista também na CUP. Um episódio que caiu mal entre os militantes deste partido, embora a direção faça questão de sublinhar que não vetou o nome de Sànchez para liderar o futuro governo.

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