Está aqui

Índia contra China: das mortes nos Himalaias à guerra do TikTok

Os 200 milhões de utilizadores indianos do TikTok viram a aplicação bloqueada pelo seu governo. A medida contra a empresa de capital chinês é uma retaliação devido à escaramuça fronteiriça entre os dois países nos Himalaias que causou vários mortos.
Telemóvel com aplicações entre as quais o TikTok. Foto de Aaron Yoo/Flickr.
Telemóvel com aplicações entre as quais o TikTok. Foto de Aaron Yoo/Flickr.

5.326 mil milhões de euros é o montante estimado de perdas que a empresa chinesa ByteDance terá devido ao bloqueio da aplicação de partilha de vídeos curtos TikTok na Índia. Com cerca de 200 milhões de utilizadores ativos no país, a popularidade do TikTok era um fenómeno em crescendo. Só no primeiro trimestre de 2020, a aplicação tinha sido descarregada na Índia 611 milhões de vezes, o dobro do total do ano passado. Por isso, as perdas desta são mais do que as perdas combinadas das outras 58 aplicações chinesas que o governo indiano impediu de funcionar no país.

O governo indiano decidiu atacar as aplicações chinesas como retaliação, depois de uma escaramuça fronteiriça entre soldados de ambos os países ter causado a morte de 20 indianos e de um número não revelado de chineses. Segundo a versão oficial, estas serão “prejudiciais à soberania e à integridade”, servindo para “roubar e transmitir clandestinamente e sem autorização dados dos utilizadores para servidores localizados fora da Índia”.

A seguir à China, onde a aplicação é diferente e funciona com o nome Douyin, estando a versão TikTok bloqueada, a Índia é o maior mercado desta empresa. O gigante tecnológico nega quer ligações com o governo chinês quer a utilização indevida de dados. Nikhil Gandhi, o diretor da empresa na Índia assegura que a empresa, que tem cerca de dois mil funcionários na Índia, que construiu um centro de dados na Índia para armazenar as informações dos utilizadores indianos (atualmente são guardados em Singapura) e que previa um investimento de 888 milhões de euros em três anos nesse país, cumpre a legislação local.

Ao nível central, a empresa fez o mesmo esforço de distanciamento do governo chinês. O seu diretor executivo, Kevin Mayer, declarou que nunca o governo chinês requereu qualquer dado nem a empresa o daria se tivesse sido pedido.

Como de costume, o prejuízo de uns foi o lucro de outros. E quem ficou a lucrar neste caso foram os rivais indianos do TikTok. A aplicação Roposo conseguiu assim mais 22 milhões de novos utilizadores nos dois dias seguintes ao bloqueio. Antes, estava empresa de 200 trabalhadores tinha a sua aplicação instalada em cerca de 50 milhões de utilizadores do sistema android. Diz agora que planeia contratar mais dez mil trabalhadores nos próximos dois anos. Outras aplicações locais como a Chingari e a Mitron também esperam crescer. E a Zee Entertainment Enterprises anunciou que nos próximos dois meses terá criado uma plataforma semelhante ao TikTok para ocupar o mesmo espaço.

O governo indiano aproveitou a ocasião para fazer passar um discurso nacionalista. O primeiro-ministro Narendra Modi lançou este sábado “o desafio de inovação Aatmanirbhar Bharat”, ou seja Índia independente, com o objetivo de potenciar o uso de aplicações indianas e criar um “ecossistema de aplicações” próprio do país.

Termos relacionados Internacional
(...)