Hong Kong: 130 mil exigem renúncia de Leung no primeiro dia do ano

02 de janeiro 2013 - 15:16

Governador está envolvido em escândalos de corrupção na área da construção civil. População quer que a democracia seja na base de uma pessoa, um voto.

porTomi Mori

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A população de Hong Kong quer que a democracia seja na base de uma pessoa, um voto.

Uma grande manifestação, de 130 mil pessoas, segundo os ativistas, e 17 mil, segundo a policia, tomou as ruas de Hong Kong no primeiro dia do ano. Não é um facto comum que, num dia como esse, quando, em todo planeta, as pessoas preferem começar o ano na companhia dos familiares e entes queridos, ocorra uma manifestação destas proporções.

Os manifestantes vestiram-se de negro, em sinal de luto por um governo que repudiam desde o primeiro dia, quando 400 mil saíram as ruas para pedir a sua renúncia, no próprio dia da sua posse, a 1 de julho.

Foi um péssimo começo de ano para Leung Chun-ying, governador de Hong Kong, e também para os novos líderes de Pequim, que vão tomar posse em março próximo. O repúdio a Leung deve-se, principalmente, aos escândalos de corrupção na área da construção civil, com a realização de grandes projetos em que Leung está envolvido. Também são motivo de repúdio as ligações que este tem com o Partido Comunista Chinês, sendo que existem rumores de que seja filiado ao PCC, coisa difícil de engolir para a população de Hong Kong.

Durante as manifestações, foram comuns os cartazes onde aparecia o número 689, que é a quantidade de votantes do colégio eleitoral que elegeu o governo por via indireta. A população de Hong Kong quer que a democracia seja na base de uma pessoa, um voto. Os manifestantes também exibiam cartazes onde Leung aparecia como uma raposa ou vampiro. Não faltaram também manifestantes usando máscaras de Pinóquio, em repúdio às suas mentiras.

Hon Kong e a luta permanente pela democracia na China

A população chinesa, a maior do planeta, curiosamente, nunca pode desfrutar de uma coisa chamada “democracia”. É uma luta permanente, desde o império até os nossos dias, contra os diversos tipos de tirania e opressão política. A China é hoje a segundo potência económica mundial, mas, em termos de liberdades democráticas, ocupa um dos últimos postos no ranking. Coisa que a imprensa mainstream resolveu esquecer por conveniência política e económica.

O regresso de Hong Kong, antiga colónia britânica, em 1997, à soberania chinesa foi um dos elementos que permitiu que a China galgasse o atual posto no cenário mundial. Mas, por outro lado, trouxe uma profunda contradição. Como evitar que o pouco que existe de democracia em Hong Kong possa alastrar-se para todo o território chinês?

Desde que Hong Kong voltou aos braços da China, esse pequeno território tem sido palco de conflitos permanentes entre a população local e os dirigentes de Pequim. No ano passado, um vigoroso processo de mobilização explodiu em Hong Kong, contra aquilo que chamaram de “lavagem cerebral”, por Pequim tentar incluir questões históricas com que ninguém, em Hong Kong, está de acordo, nos livros escolares.

A convivência de um regime autocrático, que impera na China ao mesmo tempo em que, paralelamente, em Hong Kong, se respira um pouco de democracia é uma contradição que os novos e velhos líderes chineses não podem resolver. Não há como a China se transformar num regime democrático sem que essa democracia seja visível na mesa dos trabalhadores. E essa é uma questão que nenhum Prémio Nobel de economia pode resolver, muito menos os dirigentes comunistas chineses. Ao que tudo indica, as tais reformas, que alguns analistas julgam necessárias, só podem ser no sentido de terminar a pilhagem nas empresas estatais e, em consequência, provocar conflitos com um setor da burocracia que vive a expensas desse monstruoso aparelho chamado estado chinês. A luta pela eficiência capitalista, absolutamente necessária para o regime chinês, não ira ocorrer sem conflitos e mortos.

Se existe uma coisa que todas as potências imperialistas devem temer é que as massas de Hong Kong derrubem Leung nas ruas e, com isso, se aprofunde a luta permanente pela democracia na China e que essas mobilizações cheguem a Pequim. Nesse sentido, a luta democrática em Hong Kong tem um peso excecional na luta anticapitalista que está a ser travada em todos os continentes. A vitória da luta democrática na China, liderada pelas massas de Hong Kong, poderia representar a entrada numa nova ordem mundial.

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Tomi Mori