Está aqui

Holanda: jornalista que investigava crime organizado sofre atentado

Peter R. De Vries, de 64 anos, foi baleado na cabeça e levado para o hospital em estado grave. No primeiro semestre do ano, foram assassinados em todo o mundo 35 jornalistas.
Peter R. de Vries. Foto de Marcel Van Hoorn/EPA/Lusa.
Peter R. de Vries. Foto de Marcel Van Hoorn/EPA/Lusa.

Jornalista com presença assídua em programas televisivos, Peter R. De Vries, de 64 anos, saía de um estúdio de televisão em Amesterdão quando foi baleado cinco vezes à queima roupa. Foi atingido na cabeça e levado imediatamente para um hospital onde se encontra em situação crítica.

Na sequência deste ataque, três homens foram detidos. Dois deles quando seguiam num carro na auto-estrada A4 em Leidschendam. O outro foi intercetado nas ruas de Amesterdão mas foi entretanto ilibado pela polícia.

De Vries é conhecido na Holanda pelas suas investigações sobre o crime organizado. Começou como jornalista em 1978, no De Telegraaf, passou pela liderança do Aktueel, a partir de 1987, e tornou-se jornalista independente desde 1991.

Entre os crimes que cobriu estão casos altamente mediáticos como o rapto do milionário cervejeiro Freddy Heineken em 1983. Escreveu dois livros sobre esta investigação, um deles adaptado para o cinema num filme protagonizado por Anthony Hopkins. Em 2013, Willem Holleeder, figura proeminente do crime organizado na Holanda e raptor de Heineken, foi condenado por ameaças ao jornalista.

É ainda autor de um programa sobre o assassinato de John F. Kennedy para o qual entrevistou James Files, que alega ser o atirador que matou o presidente norte-americano.

Ganhou um prémio Emmy por um programa emitido em 2016 sobre o desaparecimento da jovem Natalee Holloway em Aruba. Conseguiu gravar secretamente um vídeo de Joran van der Sloot, um dos principais suspeitos e que é acusado de liderar uma rede de tráfico sexual, a admitir que tinha estado com a jovem e que, depois desta ter morrido, tinha lançado o seu corpo ao mar. Tornou-se o programa não-desportivo mais visto de sempre na televisão holandesa.

Depois de, em 2015, ter tentado, sem sucesso, fundar um partido, abriu um gabinete de advocacia em 2017, no qual tem trabalhado como consultor. Nesse âmbito estava a aconselhar Nabil B., ex-membro de um gangue e agora testemunha policial contra Ridouan Taghi. Um anterior advogado de Nabil tinha sido assassinado em setembro de 2019.

De Vries tinha proteção policial devido às ameaças de que tinha sido alvo, nomeadamente de Ridouan Taghi, narcotraficante holandês de origem marroquina que foi o homem mais procurado do país até ser preso no Dubai em 2019 e posteriormente detido numa cadeia de alta segurança na Holanda.

35 jornalistas assassinados este ano

No mesmo dia deste atentado, a organização não governamental suíça Press Emblem Campaign revelou que nos primeiros seis meses deste ano, houve pelo menos 35 jornalistas assassinados em 21 países diferentes. Um número igual ao ocorrido no mesmo período do ano passado. No total, em 2020, 92 jornalistas foram mortos.

Segundo esta organização, o Afeganistão é o país mais perigoso para os jornalistas atualmente, cinco foram aí mortos, seguindo-se México e Paquistão com três mortes cada um. Da lista negra fazem ainda parte palcos de conflitos armados como o Burkina Faso, Nagorno-Karabakh, Gaza, Tigray e Somália. Cerca de metade das mortes registadas ocorreram em zonas de conflitos armados e identificam-se “grupos terroristas” como responsáveis por quase um terço das vítimas. A maioria destes ataques foram intencionais.

Blaise Lempen, secretário-geral da Press Emblem Campaign, revela preocupação particular com situação do Afeganistão “e em particular com as mulheres jornalistas nesse país, devido à retirada das tropas da NATO”.

Termos relacionados Internacional
(...)