Militantes de extrema-direita da Associação Habeas Corpus atacaram uma sessão informativa sobre igualdade de género e direitos LGBT que decorria no auditório da Casa do Tempo em Cabeceiras de Basto.s
De acordo com o Jornal de Notícias, os membros deste grupo entraram no espaço com objetivo de expulsar as dezenas de pessoas que participavam no encontro. Tinham viajado de Lisboa para o fazer. A GNR foi chamada ao local e conseguiu retirá-los do espaço.
O Habeas Corpus é um movimento que foi fundado pelo juiz Rui da Fonseca e Castro, que ficou conhecido do grande público quando se revelou como negacionista da Covid-19 e apelou à violação das leis e chamou o então presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, de "pedófilo". Foi expulso da magistratura e depois disso foi secretário-geral do partido Alternativa Democrática Nacional e é agora candidato do Ergue-te, ex-PNR, às eleições europeias. Uma reportagem de Miguel Carvalho, na Visão, o ano passado, afirmava sobre ele: “lidera um movimento seguido por todo o tipo de extremistas, incluindo mercenários, neonazis e cadastrados, alguns com treino paramilitar, formação em artes marciais e acesso a armas ilegais. A influência do Habeas Corpus junto de grupos violentos e os laços internacionais de Rui Fonseca e Castro preocupam as autoridades.”
O chefe do Habeas Corpus, nas suas redes sociais, confirma orgulhosamente o ataque, escrevendo “fomos ontem a Cabeceiras de Basto para uma ação num evento de homossexualidade suportado com o dinheiro dos contribuintes. Há 50 anos que somos escravos sem uma palavra a dizer sobre onde e como o dinheiro deve ser gasto. Isso vai acabar. Começou ontem.” E acrescenta que “os verdadeiros extremistas são os que promovem a homossexualidade e a pedofilia”, usando a velha tática da extrema-direita de associar as duas palavras.
O médico psiquiatra Vítor Pimenta, que foi candidato independente pelo Bloco de Esquerda ao círculo eleitoral de Bragança nas últimas eleições, também comentou o tema na rede social X, notando que o sucedido “é o resultado da legitimação do discurso de ódio pelos media e muita da direita”.
A GNR foi chamada para retirar elementos do grupo “habeas corpus” que foram intimidar participantes de um evento de promoção da Luta pelos direitos LGBT+ na Casa do Tempo, em Cabeceiras de Basto. É o resultado da legitimação do discurso de ódio pelos media e muita da direita. pic.twitter.com/y46wmZZaTu
— pimenta qb (@vitorpimenta) May 14, 2024
Bloco quer ouvir governo e desmantelamento dos grupos criminosos de extrema-direita
Numa reação a esta notícia, em que também incluiu outras situações como o ataque a imigrantes no Porto, as apresentações de livros ameaçadas pela extrema-direita e a exposição vandalizada em Évora, Fabian Figueiredo, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, sublinhou que estes “não são casos isolados”.
Anunciou que o partido vai chamar ao Parlamento as ministras da Administração Interna e da Justiça “para garantir que a segurança pública está assegurada” e para “ter certeza” que “não há nenhum condicionamento à atividade política em Portugal”, nomeadamente de organizações que defendem os direitos das mulheres e os direitos das pessoas LGBT e que “as pessoas imigrantes em Portugal são protegidas da ação desses grupos criminosos”.
O deputado pretende que estes grupos sejam não só monitorizados mas também “desmantelados”, por entender que no país “não pode haver milícias de extrema-direita que violentam as pessoas, que impedem o desenvolvimento de organizações não governamentais”. Os grupos em questão “são uma ameaça à segurança pública e é assim que devem ser tratados pelas autoridades portuguesas”, defende.
Considerando que “isto foi longe demais”, acrescentou ainda que “há um caldo cultural de promoção do discurso de ódio que tem que ser combatido e a segurança portuguesa tem que ser exemplar”.